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Poesias-->O QUE HÁ A DIZER -- 01/05/2012 - 18:02 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



O QUE HÁ A DIZER



Günter Grass



 



Este poema do prêmio Nobel Günter Grass merece nossa reflexão. Na mesma linha fiz, anos atrás, o poema Nênia para Israel



Günter Grass*



 



                                  



Porque guardo silêncio, há demasiado tempo, 

sobre o que é manifesto 

e se utilizava em jogos de guerra 

em que no fim, nós sobreviventes, 

acabamos como meras notas de rodapé. 



É o suposto direito a um ataque preventivo, 

que poderá exterminar o povo iraniano, 

conduzido ao júbilo 

e organizado por um fanfarrão, 

porque na sua jurisdição se suspeita 

do fabrico de uma bomba atómica. 



Mas por que me proibiram de falar 

sobre esse outro país [Israel] onde há anos 

– ainda que mantido em segredo – 

se dispõe de um crescente potencial nuclear, 

que não está sujeito a qualquer controlo, 

já que é inacessível a qualquer inspecção? 



O silêncio geral sobre esse facto, 

a que se sujeitou o meu próprio silêncio, 

sinto-o como uma gravosa mentira 

e coacção que ameaça castigar 

quando não é respeitada: 

“anti-semitismo” se chama a condenação. 



Agora, contudo, porque o meu país, 

acusado uma e outra vez, rotineiramente, 

de crimes muito próprios, 

sem quaisquer precedentes, 

vai entregar a Israel outro submarino 

cuja especialidade é dirigir ogivas aniquiladoras 

para onde não ficou provada 

a existência de uma única bomba, 

se bem que se queira instituir o medo como prova… digo o que há a dizer. 



Por que me calei até agora? 

Porque acreditava que a minha origem, 

marcada por um estigma inapagável, 

me impedia de atribuir esse facto, como evidente, 

ao país de Israel, ao qual estou unido 

e quero continuar a estar. 



Por que motivo só agora digo, 

já velho e com a minha última tinta, 

que Israel, potência nuclear, coloca em perigo 

uma paz mundial já de si frágil? 



Porque há que dizer 

o que amanhã poderá ser demasiado tarde, 

e porque – já suficientemente incriminados como alemães – 

poderíamos ser cúmplices de um crime 

que é previsível, 

pelo que a nossa quota-parte de culpa 

não poderia extinguir-se 

com nenhuma das desculpas habituais. 



Admito-o: não vou continuar a calar-me 

porque estou farto 

da hipocrisia do Ocidente; 

é de esperar, além disso, 

que muitos se libertem do silêncio, 

exijam ao causante desse perigo visível 

que renuncie ao uso da força 

e insistam também para que os governos 

de ambos os países permitam 

o controlo permanente e sem entraves, 

por parte de uma instância internacional, 

do potencial nuclear israelense 

e das instalações nucleares iranianas. 



Só assim poderemos ajudar todos, 

israelenses e palestinos, 

mas também todos os seres humanos 

que nessa região ocupada pela demência 

vivem em conflito lado a lado, 

odiando-se mutuamente, 

e decididamente ajudar-nos também.



[*] Prémio Nobel de Literatura, autor de O tambor e A ratazana. 



O original foi publicado no diário Süddeutsche Zeitung , assim como em The New York Times e no jornal italiano La Reppublica. A tradução para português encontra-se em Jornal de Negócios. 




Este poema encontra-se em http://resistir.info/ .

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