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Cronicas-->O Sexto Elemento -- 16/08/2006 - 12:18 (Humberto Fernandes Valente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O SEXTO ELEMENTO

Confesso que já andava com vontade de escrever sobre o assunto, mas a verdade é que depois que peguei esse título emprestado de um amigo domingo passado, num pude mais resistir.E olha que tentei.Afinal não sei bem porque agora tudo é motivo para uma crónica, já me disseram isso outro dia.Tudo, não sei, mas aquilo que me toca com certeza.Com três filhos meninos, já estou acostumado a correr pra hospital nos momentos mais diversos.Agora, Pronto Socorro com cachorro foi à primeira vez.

Lembro me de pequeno de ter dois cachorros: Faz Tudo e Kalunga.Se você que esta lendo acha os nomes esquisitos, fique a vontade, eu muito mais.Não faço a mínima idéia de quem os batizou.Guardo apenas a lembrança dos dois terem sido enterrados nos dois quintais das casas que morei quando menino pelo meu avó.Engraçado que é a única lembrança que tenho.Não me lembro de brincar ou passear com eles.Tinham o pêlo marrom e lembravam distantemente pastores alemães, mas acho que eram vira-latas mesmo.

Voltando a emergência que me referi há pouco.Domingo passado, pronto pra sair escuto um estrondo e em pouco tempo descubro que o desentraviquadrilhado do "meu" Boxer havia se chocado literalmente com a porta de vidro da varanda e feito um estrago.Confesso que num primeiro momento pensei: mais despesa, mais trabalho.Aliás, foi o que eu disse quando minha esposa e dois dos meus três filhos me convenceram a "trazer" mais um habitante aqui pra casa.Mas não tive escolha, meus argumentos de que cão e apartamento não combinam haviam acabado desde a mudança.

Sim a emergência: não é que o bichinho se cortou feio.Corri pra clinica veterinária de plantão ajudado pelo tal amigo conectado na Internet. Santa web, não sei como no tempo do Faz Tudo meu avó fazia, mas isso é outra estória.No caminho, entre o choro da minha esposa, mãe auto intitulada desse quase pónei, e as lambidas que o mesmo dava nela e na ferida, me vieram à idéia algumas coisas que nunca tinha parado pra pensar antes.Por exemplo, que esse tipo de acidente acontece e que eu não estava preparado pra ele. Se não for por mais nada, nunca ouvi falar de plano de seguro pra cachorro ou outro animal de estimação qualquer.

Chegando lá, o cão foi atendido de pronto, a clinica tava vazia.Como já disse alguém: vida boa a de cachorro.Em outras experiências com humanos mesmo em hospitais particulares a demora na emergência foi bem maior. Sem falar no preenchimento prévio daqueles malditos formulários.Em quanto à veterinária fazia seu serviço e a "mãe" tentava sem sucesso se recuperar do susto, tomei as providências de praxe em ocasiões como essa.Tranquilizei meus filhos, via telefone, e também avisei ao meu amigo, salvador, que o problema já caminhava para a solução.

Foi nesse meio tempo que me lembrei que uma semana antes havia pela primeira vez passeado com o Gucci, ou melhor, ele me passeou, que força tem o bicho.Bem, na verdade, acho que a maior força que ele fez não foi a de puxar o meu braço, mas sim a de me levar a um lugar que nunca tinha ido antes.Prosaica essa coisa de passear com cachorro.Não me pergunte por que senti uma imensa tranquilidade em tal atividade, mas a verdade é que estava relaxado.Lembrei-me de um filme em que a principal atividade da mocinha era passear cachorros e que isso a fazia feliz.Sempre me lembro do filme, muito bom, mas esta cena nunca tinha me chamado à atenção, mas vejo agora que tinha tudo a ver com o mote do filme e com o quero, finalmente, expressar.

Vivemos correndo de um lado pro outro sem tempo pra todas as coisas que temos pra fazer nesses dias modernos em que 24 horas parecem pequenas demais para os nossos afazeres diários.Trabalho, ginástica, escola, curso, dentista, medico, salão, cinema, restaurante, visita, festa, missa, enterro, casamento, viagem, feriado, telefone e celular (parecem a mesma coisa, mas não são), televisão, internet.Ah a web, se hoje não temos e-mail, blog e orkut e não estamos conectados a esse mundo globalizado, estamos out, desconectados.Mas a verdade e que andamos nos afastando de nos mesmos.

Fazemos tudo através dessa pequena tela.Pagamos contas, conversamos, até nos vemos, namoramos, desejamos felicidades em aniversários, trabalhamos, nos informamos, estudamos, encontramos velhos amigos sumidos com o curso da vida.Mas e ai? Isso é vida?Temos tanta informação que nos perdemos com ela.A Internet facilitou tudo é verdade, mas aí acho que chego finalmente aonde to querendo desde que comecei a escrever essa crónica.Quem disse que trabalho, simplicidade ou pequenas coisas não é sinónimo de felicidade?

Não estava errado quando disse que o "cãozinho" ia dar mais trabalho e despesa pra gente, uma família já de cinco pessoas.Dá trabalho, despesa e preocupação como pude ver com este episódio.Mas dá alegria.Meu deu paz e tranquilidade, aquele passeio.Num mundo tão cheio de tecnologias, e não posso negar que as adoro, foi um cachorro que invadindo meu espaço meio a contra gosto, me mostrou que uma caminhada despretensiosa faz muito bem, não é perda de tempo, é ganho.Ganho no máximo uma lambida ou um pulo enorme em meu peito.Chego em casa babado, cheirando a cachorro.Mas ganho de graça, como também dou de grátis.Não há obrigação ou cobrança, a relação é direta, sincera espontànea e simples.

A verdade é que nunca imaginei ou aceitei que um animalzinho irracional pudesse me fazer companhia ou me dar prazer.Apeguei-me, afeiçoei-me ao bicho.Confesso, acho ele até engraçado.Ando mais preocupado com ele que com a minha conexão de banda larga que vive caindo.Ele de uma certa forma me tirou dessa corrida por estar com tudo pronto, tudo certo, organizado.Cuido dele sem que ele me peça, não por que ele precise, até precisa, mas cuido por me fazer bem o descompromisso, a falta da obrigação, a escolha, a vontade de ter um cachorro mesmo que isso signifique mais algum gasto de tempo.Aquilo que para alguns talvez não faça sentido, pra mim passou de repente a fazer, tenho um cachorro.

Agora depois de tudo isso chego em casa e além de tudo que acho que tenho,mulher e 3 filhos, ouço aquele latido familiar que não me pede um passeio ou uma "festinha",mas me lembra que ele esta ali sem razão ,sem compromisso,sem responsabilidade,o sexto elemento dessa minha casa e me chego perto dele pra talvez roubar um pouco dessa espontaneidade, dessa alegria traduzida em pulos e babadas.E chego até a concordar: vida boa essa de cachorro.


29/04/2006
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