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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Coração de Pássaro -- 18/09/2016 - 13:43 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"Coração de Pássaro!"

"Que está falando Amélia? Você e essa mania de disparar frases sem sentido."

Amélia riu mostrando as covinhas. Fazia uns minutos que estava ali olhando a irmã. Sempre achou Camélia meio avoada, mas agora estava demais. Ficava olhando pela janela, olhar perdido sei lá onde no céu. Sempre achou que ela tinha mais a ver com passarinho que com gente. Desde pequenininha dizia que se pudesse seria aviadora, iria pilotar aviões só pra poder voar perto das nuvens e entremeio a elas! Mas os voos dela sempre estiveram atrelados aos sentimentos e ao romantismo que lhe são próprios. As asas que a guiam sempre foram as da paixão e do amor. Cada qual alça voos com as asas que lhe são apropriadas.

"Fala mana, e para de me olhar desse jeito."

"No que está pensando aí olhando pela janela?"

"Na perfeição das coisas de Deus. Hoje mainha me pediu pra fechar as janelas, porque estava ventando e a poeira ia sujar toda a casa que limpamos pela manhã. Fiquei aqui tentando entender a ordem divina das coisas..."

Camélia completou:

"Huuum... Fechar janelas. Eis uma coisa que deveríamos fazer com mais afinco. Fechar as janelas do amor que foi embora, que acabou, para só depois começar outro. Nunca vai dar certo esse negócio de começar novo amor se a janela do coração ainda está entreaberta para o que acabou. As janelas da alma tem trancas cujas chaves divergem das que trazemos em mãos. Não somos os guardiões delas. Abrem-se ou fecham-se ao sabor do vento do destino. Só podemos nos esconder detrás de coloridas cortinas, rir ou chorar com os sentimentos que entram pela fresta. A vantagem da amizade é que não precisamos fechar uma janela para começarmos uma nova. As portas e janelas estão sempre escancaradas para novos amigos. Cabe todo mundo. Já no amor... um por vez."

Camélia fechou os olhos, recostou-se na cadeira e rememorou as cenas da janela: O vento passado pelas arvores da praça em frente, os ipês floridos, os frutos das paineiras, tudo em perfeito equilíbrio. Uma rajada mais forte arrancou as painas dos frutos e as fizeram voar, e foram subindo em redemoinho, flocos brancos formando um cone invertido em direção ao céu, cada vez mais alto. Em algum lugar as sementes irão cair e brotarão novas árvores, renovando a vida... e se não brotarem, ‘valeu a intenção da semente’. Intuitivamente colocou a mão sobre o ventre. Acabou cochilando na poltrona da sala. Acordou enjoada, cabeça rodando. Ao se levantar teve uma vertigem. Será que estava doente? Alguma virose? Encontrou Jacinto no corredor todo perfumado para encontrar Rosinha. O perfume do irmão fez com que o enjoo aumentasse ainda mais.

Será? Estaria esperando um filho de Zé? Mas só se descuidaram uma única vez. Que ironia do destino. Minutos antes ali na janela encantando-se com a renovação da vida nos ciclos das estações. Teve certeza que dentro dela ocorria o mesmo. A renovação da vida pulsando intensamente no ventre. Não sabia se ria ou se chorava. Um misto de alegria profunda que a maternidade proporciona junto com as inseguranças da juventude. Não falaria nada ainda para ninguém, nem para o Zé. Queria confirmar, mas em seu coraçãozinho já tinha essa certeza. Voltou a poltrona da sala, colocou os pés sobre a cadeira, abraçou os joelhos. No galho do Ipê pousou uma Tesourinha. Lembrou de sua avó que dizia:

"Camélia, quando elas chegam é sinal de chuva, vida que se renova, fartura de frutos para alimentar os filhotes nos ninhos. Sempre bom sinal."

Pensou no Zé, com aqueles olhos enigmáticos, com um não sei que de pássaros engaiolados, que jamais alçam voos ou são amados. Quem aprisiona um pássaro não o ama. Admira seu cantar triste. Presidiário não canta de alegria, canta de dor. Se nós humanos, não aguentamos prisão, o que dirá dos pássaros, que foram criados para serem livres?... E Zé, o que pensaria de ser pai? Se sentiria livre ou preso? Cada criatura vê uma mesma situação com o olhar que lhe é próprio. Onde alguns veem tragédia outros, encantamento. Começou a desenhar o futuro. Um turbilhão de perguntas e medos. Seria menina ou menino? Onde iriam morar? Como sustentar uma criança? Ela desempregada, Zé ainda estudante e ganhava apenas como estagiário na rádio da cidade.

"Se Deus quiser este filho nos trará muitas alegrias. Deus, nos cubra de bênçãos! Lá fora tudo está em ordem com as leis do universo. Que também seja assim em nós." Seus olhos marejaram.
Começou uma chuvinha fina molhando a vidraça, a primeira da estação. Como se a natureza lhe dissesse: O amor está em ti. Como a seiva a circular, floresça e frutifique.

Fechou os olhos, abriu as asas da imaginação, alçou voo e deixou-se transbordar da mais pura felicidade seu coração de pássaro.







Colaboração: Ângela Fakir e Jeanne Martins
Desenho: Ângela Fakir
http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/
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