Rugas
Muitas vezes pergunto-me o que ganhei com o tempo, com o passar dos anos. O que? Engraçado como percebo que talvez tenha feito essa pergunta tarde demais, ou pelo menos não tão jovem assim.
Os anos passam e nem nos damos conta que deveríamos nos preocupar um pouco mais, não com aquilo que ganhamos, mas com aquilo que perdemos, que deixamos pelo caminho.
Vamos "crescendo" e buscando recursos, propriedades, colocações, carreira, estabilidade e até aposentadoria sem planejar muito também vamos tropeçando em amigos, companheiros, casamentos, filhos, parentes, festas, inimigos, tristezas, doenças, experiências, decepções, amores, traições, surpresas, enterros, alegrias, recuperações, dores e curas. Tudo isso nem sempre bem dividido e não necessariamente nessa ordem.
Mas afinal se ganhamos tanto o que perdemos?
Tempo, é perdemos tempo esquecendo de quem éramos, ou melhor, de quem ainda somos. Passando ao longo do lugar comum de sonhos e ideais, complicamos com o passar dos anos as coisas que quando mais jovens simplesmente vivemos.
Sem falar também de condições, posições ou crenças, o que realmente perdemos com o passar dos anos, se não nossa inocência ou ingenuidade, inevitável, perdemos nossa espontaneidade, sinceridade, a confiança nos que nos cercam.
"Crescemos" ponderando muito, desculpando, evitando, dissimulando, omitindo, e na verdade, mentindo mesmo.
Sempre que olhamos para trás procuramos geralmente o que perdemos por fora ou ao nosso lado. Porém não nos damos conta que realmente o perdido foi por dentro. Onde esta nossa chama, nossa paixão, a convicção e confiança inquebrantável em nossas crenças e amores, que se não eternos, infinitos em sua duração, mesmo que momentànea.
É talvez seja isto que a idade traga, a desconfiança de que já não somos os mesmos.
Sinceramente, acho que preferia só as rugas.
|