Quando começou seu caminho de volta para casa, o coração veio doído, a garganta apertada. Na cabeça, os pensamentos se misturavam. Começou a pensar coisas... Era realmente uma mãe à moda antiga, "careta", "chata".
Aquela que acordou à s seis da manhã porque o filho tinha que estar no local do vestibular as oito em ponto.
Aquela que foi tentar acordar o "seu candidato" e ele pediu um tempo até as sete, porque o portão só fechava as oito, e para ele, ainda tinha muito tempo, e o local era logo ali...(-ali, era quase o final da Praia Vermelha...)
E ela corre para adiantar o café da manhã e volta ao quarto, "filho acorda a gente não pode chegar em cima da hora"... Ele resmunga. Senta na cama e ela sai. Volta com os documentos, o telegrama de convocação, e a pressa... E apressa o filho. Rápido, vamos!
É tudo no plural: nós temos, nós precisamos nosso local de prova...
Precisamos de duas canetas, dois lápis, se um falhar...
É a mãe fazendo o vestibular junto!
Diante do portão de ferro, confere os documentos, o comprovante de inscrição, identidade... Tudo certo. Diz um vai com Deus, faça o melhor que puder e fica tranquilo; vai dar tudo certo, o que tiver que ser será. Ele entra. A mãe volta para casa à pé, caminhando para passar o tempo. Os flashes estouram no cérebro...
Ela faz a prova, de casa. Imagina: se tiver redação, ótimo; interpretação de texto- ele gosta disso... As questões de Matemática, Química que ela não entende mais nada, Física então, Virgem Maria!
Inglês, -"bate - pronto" ele é bom nisso. Geografia, História, Sociologia, Filosofia, "tá limpo...".
Deus ilumina meu filho!...
Mais do que aquela vaga na Faculdade está a desilusão do não conseguir, e ele vai sofrer, pensa... E mãe, você já sabe, não quer saber de filho sofrendo!
Volta engasgada, suada. Se recriminando por ser assim. Por se preocupar com um homem de quase dezoito anos, mas ele ainda é um garoto! E esta vida tão exigente, seletiva, insegura... E começa o "varandão" da saudade...
Recorda de quando levou o filho para o Jardim de Infància e ficou escondida no pátio, esperando ele se acostumar com a escola, enquanto tenta se acostumar com aquela ausência.
Foi assim quando mudou de Colégio e precisou fazer aquele "vestibulinho" para concorrer a uma das trinta vagas na 5ª. Série com mais de três mil candidatos... Ela ficou sentada no botequim em frente do colégio, rezando (- e você não sabia, mãe reza em qualquer lugar!) para que ele se saísse bem nas provas...mesmo com a matricula já garantida em outro colégio...
Ela, que na Primeira Comunhão gastou todos os lenços da caixa de papel e todos os flashes da máquina , apesar do fotógrafo contratado...
Mãe! Ah mãe, solta as amarras do seu pequeno navio. Deixe-o singrar as águas do oceano da vida. O que precisava construir já foi feito com seus cuidados. Deixe-o viver, aprender com as dificuldades, erros e acertos. Reze, reze para que seus caminhos sejam claros e seguros e faça-o ter a certeza que serás sempre aquele porto seguro para qualquer volta.
O coração continua doído. A garganta apertada. Os olhos já derretendo. E com aquele olhar vivido, vê aquela porção de gente bonita, que cedo corre para buscar sua vaguinha de esperança e suposta felicidade!...