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cronicas-->A Banda Passar e Tocar de Novo as Coisas do Amor -- 12/08/2006 - 15:43 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Banda Passar e Tocar de Novo as Coisas do Amor

Carlos Canhameiro

Não é possível voltar atrás? Por que pergunta? Porque quero saber. Sabe que não pode. Não sei.

Os dois cantavam. Sempre cantaram. Quem disse que podiam cantar não se sabe. Não se sabe também se alguém disse e muito menos se era ou é preciso dizer. Eles cantavam. Cantam. Cantam até hoje. A música que era expulsa de dentro como uma necessidade vital, um parir desenfreado de notas, filhas todas do único desejo que tinha em comum: cantar.

E nessa história de cantores se perfez a mentira da união celeste, do acaso constante entre duas pessoas que cantam e confundem a música com amor e a desobediência dos corpos com a eternidade da imaginação e os desfazer completo da imortalidade com destino.

E as palavras buscavam e ainda buscam, num desespero lacerante colocar pontos e encontros na infinidade de caminhos, na multiplicidade de sentimentos, na descarreira dos desejos. Oh, entidade suprema que clamamos quando não somos capazes de compreender as ações e até mesmo o que somos: o que fazer para aceitar a nossa invariabilidade, palavra seca, sem poesia; aceitar a nossa mutante e inconformada situação, nossa não-existência imaginativa, nossa ciência que nos aponta a todo e anátema segundo que nada faz e fará e tem sentido porque o que é não poderá se sustentar por muito mais do que o tempo de dizer que é?

Oh infelicidade miserável que nos coloca em xeque a cada maldita ação e pensar e que ainda sim impulsiona, malignamente, a fazer; num jogo de cartas marcadas com os demónios. A inutilidade da ação e do pensar confrontando-se com o desejo extremo de agir e pensar para tornar-se óbvio e repetitivo que pensar e agir e agir e pensar em nada irá mudar o que já foi mudado. E mesmo a aceitação imbecil de que: o mundo a vida as pessoas o ser e o não ser serão assim, é resposta intelectual para debruçar-se sobre o parapeito da existência e aceitar-se contemplativo do vazio e não se jogar na bendita morte.

Os dois que cantavam, cantavam porque assim eram e assim se descobriam ser. As melodias se desenhavam em compassos próprios e a nota ou a pausa que imaginavam completar um a música do outro nada mais era do que duas músicas distintas que se pareciam harmónica porque o que parece nada mais é do que cegueira ou surdez de todos para acreditar que nascemos para cantarmos juntos, quando a realidade nos explode a todo fuck moment que somos solistas.

E a vontade imposta ou desejada ou resposta automática de algo que está em nossos corpos e não se pode controlar. As palavras ferem as sensações próprias porque as transforma em pares quando somos indivíduos... Oh ser acima e abaixo daquilo que cremos ser nós mesmos, o que fará com que sejamos menos torturados por tudo aquilo que queremos nos torturar? Há muitas perguntas... Todos se resumem ao por quê? Numa causa-consequência-ação-reação-efeito-colateral que não explica nada. "Melhor não nascer. Uma vez nascido, melhor não pensar. Uma vez pensante, melhor não se considerar existente. Uma vez existindo, melhor não falar. Uma vez falante, melhor calar. Uma vez calado, melhor se matar. Uma vez morto, melhor!"

E a música que aos ouvidos da esperança demoníaca se dizia ser composta por um Duo, revelou-se em sua essência humana e indivisível. Não menos bela por isso, apenas mais dolorosa. E a dor cantada continuou cantada e o desejo de voltar continuou idiota e pulsante e a música persistiu a invadir os ouvidos de quem quer que seja porque assim quis os ouvidos, manter-se na ilusão consentida. E assim foi e nunca deixou de ser.

Não quero mais. Quem chegava a essa conclusão: a música, o ser, o outro? A criação de qualquer impossibilidade destrói a realidade dos fatos e mergulha: cantores, atores, pintores e ores e eiros e ados, e istas, e inos, na mais profunda chaga de si mesmo: a impossibilidade de voltar e a fantasia da volta. Move on. Para onde? Aquele que diz para frente como pode ter a certeza que frente não é trás leste ou sudoeste?

Os dois cantavam e continuaram a cantar. No concurso do melhor cantor solo no solo das cidades capitais, estavam solos na final e solitariamente seriam Vencedor e Perdedor. Primeiro e Segundo. Ouro e Prata. Tudo e Nada. Ele não solou... De sua música solo não quis fazer embate com o que já acreditou Duo. Com as notas nas cordas, calou-se. Disse sem jamais ser compreendido. Preferia a tolice do amor-ciente-e-fantasioso à crueza do inevitável desfecho-indivíduo. Perdeu: segundo, prata, nada. Nada voltou atrás como sabia que não voltaria e quem venceu comemorou o prêmio, como se espera de quem vence. Subverteu a si mesmo e continuou a ser um solista atrás da banda tocando coisas de amor.
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