Eram nove horas da manhã e a moça da lavanderia estava chegando à casa dos Silda para entregar a remessa de roupas da semana anterior, quando, ao penetrar pela porta dos fundos, avistou a senhora Maria K. Silda esparramada e inerte no chão da cozinha. A moça não fez por menos: saiu pela vizinhança anunciando a morte de sua cliente. A família de K. Silda não estava em casa. Seu marido estava trabalhando, seus filhos na escola e sua mãe nas ruas, falando mal do genro, o senhor Midey Malca Zeicom K. Silda. Na casa só estavam o cachorro Hitchcock, a gatinha Christie e o mordomo Komué Kefui Pararaqui, um judeu-japonês que, por sorte, encontrava-se dormindo em seu quarto.
Em poucos minutos, a cozinha de dona K. Silda estava cercada de velas e pessoas, algumas se aproveitando do tumulto para furtar panelas e mantimentos da referida dona-de-casa. Chegou a família: marido, filhos, mãe etc. Todos chorando para valer. De repente, viram no corpo da vítima, na altura do seio esquerdo, uma pequena mancha de sangue. O marido aproximou-se, abriu a blusa e pôde ver uma discreta facada, em cima do coração de sua esposa. Revoltado, o senhor Midey Malca Zeicom K. Silda saiu correndo rumo ao quarto do mordomo, enquanto os filhos Kiazarsou Filho de K. Silda e Eutan Benson Filho de K. Silda molhavam-se de tantas lágrimas derramadas pela tragédia acontecida com a sua mãe. O pai nem conversou: abriu a porta, olhou para os olhos fechados de Komué e começou a gritar, acusando-o do assassinato. Komué acordou completamente perdido, pedindo para que não o despedisse por dormir tanto. Midey pegou o mordomo pelo braço e levou-o para a cozinha, ao tempo que o chamava de marginal. O mordomo, ao ver o corpo, desmaiou. A confusão estava formada. Afinal, quem matou Maria K. Silda??
Depois do funeral, o caso foi para o tribunal. A corte estava formada. O acusado, o mordomo Komué Kefui Pararaqui. Toda a família presente, com exceção de Kiazarsou Filho de K. Silda, que não pôde comparecer, pois começariam as provas de vestibular no dia seguinte e, por isto, ficou em casa para estudar.
Quando a sessão foi aberta, a família em peso levantou-se e falou em vozes uníssonas que aquilo não seria necessário, pois todos tinham certeza de que era Komué o autor do crime, por algum motivo oculto. Komué, diante daquele martírio, levantou-se da cadeira de réus e, alucinado, gritou que o julgamento acabaria naquele momento. Puxando um canivete do bolso, matou-se com uma canivetada no coração. O reboliço foi total. Com aquilo, nada mais iria se saber.
A família voltou para casa injuriada. Todos conversando sobre aqueles fatos horríveis que estavam acontecendo no lar dos Silda. Eis que, quando chegaram à garagem e saltaram dos carros, escutaram, vinda do interior da casa, uma voz apavorante, pedindo socorro. Era a voz do filho, que havia ficado em casa para estudar. O pai saiu correndo, arrebentou a porta da sala, mas o filho estava no quarto, como se estivesse quase sendo vencido por mãos assassinas. O pai, então, rapidamente, abriu a porta do quarto, mas os gritos vinham do banheiro que lá existia. Chutou a porta do banheiro e finalmente pôde ver vultos que se mexiam atrás da cortina da banheira. Puxou violentamente a cortina e lá estavam os assassinos: o cachorro Hitchcock e a gata Christie. Hitchcock era um pastor-alemão que, com uma faca na boca, tentava acertar o coração de Kiazarsou Filho de K. Silda, enquanto a siamesa Christie unhava o dito cujo.
Assim mais um crime misterioso ficou resolvido. Kiazarsou foi aprovado em Direito na melhor faculdade do país, Eutan Benson foi para os Estados Unidos estudar Música com George Benson, seu xará e ídolo, e o senhor Midey encontrou um novo amor, aprovado por toda a família, menos por sua ex-sogra, que passou a falar mal dele em praça pública, com megafone, como se fosse um ideal de vida. Ah! Antes que eu me esqueça, os nossos vilões tiveram o fim que mereciam, pois Hitchcock foi entregue à carrocinha e Christie foi jogada no rio mais poluído da cidade.
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