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Contos-->Minhas féris e um Tiziu -- 15/02/2010 - 17:23 (josé paulo pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minhas férias e um Tiziu


Férias no sítio do Tio Otavinho ?
Oba! Vamos para lá.
O sítio era longe, numas montanhas onde só se chegava à cavalo.
Começava a anoitecer.
À cavalo ou à pé não se pode ter pressa. É tudo lento, calmo, parando para fazer um cigarro de palha, apanhar uma fruta ou, se encontrar alguém, para conversar.
Eu ficava meio arrepiado.Como será o escuro?
Tio Otavinho ria, dizendo que lá havia poucas assombrações e que eram suas amigas. Eu que não temesse.
Quando menos se esperava já era noite. Eu olhava para o céu e só então percebia como ele era lindo. Cheio de estrelas, algumas enormes e brilhantes. Tio Otavinho explicava que as maiores eram planetas. As menores, e que piscavam, eram estrelas. Dizia que elas estavam tão longe que jamais seriam alcançadas.Dizia que se ficássemos olhando, poderíamos ver um cometa.
O céu era lindo!
Ao olhar, novamente para a estrada, não se via mais nada, tamanha era a escuridão. Havia muitas luzinhas piscando. Tio Otavinho dizia que eram os vagalumes. Dizia que se pegássemos muitos deles e os colocassem numa garrafa branca, teríamos uma lanterna. Se escurecesse era só chacoalhar a garrafa que os vagalumes acordariam, clareando o caminho.
Havia muitos ruídos. Tio Otavinho dizia que eram os sapos e as rãs. Ficavam acordadas, à noite, para pegarem os insetos que dormiam. Dizia também que aquilo era conversa dos bichos, alertando-me para a enorme variedade dos ruídos, alguns muito sonoros e bonitos.
Um brilho estranho e um ruído, logo em nossa frente, assustou-me. Tio Otavinho ria, dizendo ser somente uma coruja, sua amiga, que dava boas vindas.
Estávamos chegando.
Casa enorme. Um fogão de lenha com panelas pretas e água fervente.
Era o nosso banho. Deliciei-me nadando na bacia de cobre.
O cansaço facilitou o sono.
Como que num delírio, passei a ouvir o cantar dos passarinhos. Verdadeira sinfonia obrigando-me a permanecer muito tempo imóvel, tentando identificar os sons.
Dentre eles eu ouvia , com destaque, um piado compassado que dizia :- Tiziu,...Tiziu,..Tiziu.
Olhei pelo buraco da janela e vi, na cerca de bambu, aquela coisinha linda, todo preto, brilhante, pulando e repetindo :- Tiziu, Tiziu, Tiziu...Permaneceu muito tempo ali, sem mudar o ritmo. Depois voou.
O sol já fazia sombra. Estava frio. Levantei-me.
Tio Otavinho tirava leite. Dizia não entender como a vaca preta dava leite branco! Ele vivia brincando.
Um garoto do sítio trouxe uma caneca bem grande para eu beber o leite que o Tio Otavinho tirava da vaca. Que gostoso! Espumante, quentinho, saboroso!
Passei muito tempo acariciando um bezerrinho nascido no dia anterior.
Na volta vi novamente o Tiziu. A seu lado, um passarinho todo preto, com a cabecinha branca. Tio Otavinho disse que era a Freirinha, namorada do Tiziu. Realmente parecia que eles se namoravam , pois vivam sempre juntos.
Vi o menino com o estilingue na mão e perguntei o que fazia? Disse que matava passarinhos.Por que, perguntei. Disse que era para comer. Mas, são tão pequenos!
Não me respondeu e correu para o curral. Prometi que lhe quebraria a cara se ele matasse o Tiziu.
Tio Otavinho colocou-me na garupa do cavalo e levou-me par passear. Parou numa jabuticabeira, cheira de jabuticabas, redondinhas, brilhantes, docinhas... Fiquei indócil. Comecei a comer com muita gula.Tio Otavinho disse que, se engolisse todos os caroços, entupiria a barriga.
Depois me levou a uma cachoeira enorme, onde nadamos por longo tempo. A água, fria e cristalina nos permitia ver inúmeros guarus e alguns lambaris, nadando ali, nos nossos pés.
A água descia da pedra e, batendo no tanque, levantava uma garoa fina, fazendo um barulho danado.
Logo perto, apareceu uma ave grande, de pernas finas e compridas , com um cantar estridente. Tio Otavinho disse que era uma Seriema. Ela comia as cobras venenosas do sítio. Ela enfiava a perna comprida no buraco do cupinzeiro, a casa da cobra, tirando-a de lá, para comer. A Seriema ficou com ares de heroína, afinal, ela nos protegia, comendo as cobras venenosas. Mas, havia, também cobra que comia cobra.Tio Otavinho explicou:- A cobra inteirinha rosada era chamada de Caninana. Ela não era venenosa e comia as outras cobras. Eu ficava pensando :- E se eu não a reconhecer, pensar que é mansa e for uma cascavel?
À tarde fomos pescar. Tio Otavinho me ensinou a pegar minhoca e iscar o anzol. Era uma festa! Havia muitos lambaris naquele rio. Foi uma fritada e tanto!Lá na roça se come muito pelo cansaço que dá , andando por aqueles morros.
Eu adorava. Passei lá os dias mais felizes de minha infância. A maior alegria era ver o Tiziu pulando na cerca de bambu, com seu gritinho :-Tiziu...Tiziu...Tiziu...
Durante muitos anos me lembrava do Tiziu, com muita saudade. Gostava dele como se fosse um cachorrinho de estimação.
O tempo passou. Fizeram uma usina. Tio Otavinho dizia, tristonho, que a água cobrira tudo.Não havia mais aquela casinha de palha nem o curral, nem o terreiro.
Um dia, fui lá para ver.
Um lago imenso, bonito, com algumas águias voando rasante. Gente pescando. Lá no fundo, um barquinho a remo.Não havia mais a cachoeira. O lugar onde nós pescávamos estava coberto.A casa era lá em cima, no morro, de tijolos, telhas francesas e vidraça. Tinha até uma antena de televisão.
As pessoas gostavam. Mas, onde está o encanto?
Tio Otavinho dizia que era o progresso.
Tentei alegrar-me, andando por ali, mas vi que era melhor ir-me embora.
Já ia longe, quando, de repente , paro emocionado, com lágrimas nos olhos e fico sentado à beira do caminho, por longo tempo.
Ali, na minha frente, como que me saudando, o Tiziu, pulando como antes, num galho de uma árvore, gritando:- Tiziu...Tiziu...Tiziu...
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