Famosa trova do médico e poeta Barreto Coutinho,nascido em Palmares-PE, foi uma das que mais provocou polêmica quanto à autoria. Tanto que o própio autor, na década de sessenta, quando foi a Juiz de Fora-MG, receber prêmio por classificação em concurso do gênero, disse que, em viagem a Portugal viu, em Lisboa, um azulejo com a trova dele, sem nome de autor!
Inclusive, no hotel em que se hospedou, com outros com utros vitoriosos do Concurso, estava numa mesa com Rangel Coelho e mais dois, quando falaram no assunto, e ele mostrou um recorte do jornal A Província, do Recife,de mil e oitocentos e não sei mais quanto, em que ela consta de um poema de sete estrofes,com o título MÃE, sendo a quinta, nestes termos: "E um dia a vi rezando / aos pés da Virgem Maria:/ - era uma santa escutando / o que outra santa dizia."
Não se sabe se o próprio autor modificou o primeiro verso para "Eu vi minha mãe rezando..." ou aceitou sugestão de algum confrade. De qualquer forma, a trova é de Barreto Coutinho e esse detalhe não lhe diminui o mérito.
Mas,voltando à mesa dos trovadores, um dos presentes levantou-se, tirou o recorte de jornal da mão do autor, e este, brandindo uma bengala disse: "Devolva!" E o gaiato devolveu...
Ainda sobre o assunto, estive com Mauritônio Meira, no Rio, há anos, no tempo em que ele publicava a Revista Nacional que, aqui em Pernambuco, saía aos domingos, no Jornal do Commercio; e ele falou que referida trova seria, possivelmente, do poeta Da Costa e Silva
(talvez pelo famoso soneto SAUDADE,do piauiense,sobre o mesmo tema...).
A verdade é que encontrei, no Arquivo Público, aqui do Recife, a edição de A Província, em que foipublicado o poema MÃE, de Barreto Coutinho, com o detalhe do primeiro verso - "E umdia a vi rezando..."-, em vez de "Eu vi minha mãe rezando..."
Tal esclarecimento,que ora faço de memória, é devido ao médico-escritor Raymundo Silveira,ter publicado no seu artigo, de hoje,"Apreciação Literária - Gislane Canales", que leu, entre os cinco e seis anos de idade, em almanaque do Serviço
Social da Indústria, "O Sesinho", a discutida trova; e não saber a autoria da mesma.
Por fim, já ouvi de muitos trovadores, e concordo
em gênero, número e grau: é uma das mais belas trovas da língua portuguesa.
Geraldo Lyra - Recife(PE), 13.01.2003. |