Usina de Letras
Usina de Letras
164 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62272 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50662)

Humor (20039)

Infantil (5452)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A mulher do alcoolatra -- 06/02/2010 - 15:20 (josé paulo pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher do alcoólatra.

Parecia serena.
Na verdade estava indiferente, distante.Olhos parados, ignorando as pessoas que chegavam, pouco ouvindo o que falavam.
Pele morena, com rugas precoces, cabelo sem nenhum estilo, puxado para trás, em coque.Nenhuma pintura.
A roupa humilde de sempre.
Muito alta, magra, mas com músculos fortes. A aparência de mulher sofrida, de pouca fala.
Impunha-se pelo porte. Seu semblante era de quem estava em luta.
Ali sentada, meditava.Lembrava-se de quando optou por casar-se, na esperança de livrar-se das asperezas do pai.Homem mal, corrigia os filhos com brutalidade, sendo comuns as surras por nada, dependendo somente de seu mau humor.
Nenhuma regalia. Trabalho e austeridade.
Pouco aprendeu na escola onde eram freqüentes as faltas devidas às novas tarefas impostas pelo pai.A mãe, totalmente submissa, vivia dizendo para se ter paciência._ “Deus queria assim e um dia daria jeito”
Não sabia dizer se gostava do marido. Lembrava-se que quando o viu pela primeira vez o achou bonito.Falante e sorridente, parecia um homem alegre.
Por exigência do pai, mantendo o costume da família, teve pouco mais que dois meses para os preparativos.
Não estava interessada em sexo. Na verdade, pouco sabia.Foi agindo instintivamente, temerosa, às vezes gostando. Demorou muito para conseguir um orgasmo.
O marido queria sempre mais, jamais lhe dando o direito de opção. Ela achava que era assim mesmo.
Os dois filhos nasceram logo. Lembra-se que olhava para eles, prometendo-lhes uma vida melhor.
Com o crescimento dos filhos percebeu existir o amor. Sentia-se feliz com eles, provocando brincadeiras que nunca tivera quando criança. Às vezes até saiam para passear num parque, ou mesmo sem destino, pelas ruas do bairro.
Com o marido pouco conversava. Ele chegava do trabalho e logo ia ao botequim da esquina, onde passava horas e horas bebendo, jogando damas e conversando com os amigos.
Só temia deixar a porta sem a chave. Enquanto o marido não chegava não conseguia dormir. Aproveitava para cobrir e acariciar os filhos. Indignava-se quando o marido chegava bêbado, acordando as crianças que choravam e se encolhiam na cama.
Jamais conseguiu um dialogo pedindo que mudasse.Só o início de um assunto nesse sentido já era motivo para gritos e xingamentos. Quando embriagado era pior. Dizia que ela fosse embora, desafiando-a a procurar o pai.
Ela não tinha qualquer autonomia. Não recebia um tostão sequer do marido. Ele comprava tudo. Ainda reclamava quando era solicitado a comprar remédios para os filhos. Às vezes, no fim do ano, comprava-lhe um vestidinho simples e uma sandália, dizendo que se quisesse mais que se virasse.
Tentou trabalhar, fazendo faxina nas casas do bairro. Quase foi agredida pelo marido dizendo que mulher dele não ia ficar trabalhando pelas casas dos outros.
Às vezes parava, olhando o marido, sem saber se seu sentimento era de resignação ou de ódio. Concluía que, de qualquer maneira, precisava dele para criar os filhos.
Nos últimos anos as coisas pioravam. Aumentou a bebedeira. Todos os dias chegava sujo e embriagado. Agressivo, por diversas vezes estapeou-a sem o menor pudor e sem qualquer motivo.
Não chorava. Recebia tudo aquilo com aparente serenidade, observando o tempo passar por sua mente, vendo os filhos mais crescidos, quando, então, poderia livrar-se dele.
Percebia que ele adoecia.Tossia muito e, às vezes, vomitava. Às vezes não se levantava cedo para o trabalho.
Pior ainda quando ficava em casa. Era um martírio; xingamentos e lamentações absurdas.
Ela se lembrava de nunca havia chorado. Quando agredida procurava se defender e, sendo forte, conseguia proteger-se. Lembrava-se de que, por algumas vezes, houve o desejo de aproveitar a bebedeira do marido e reagir com vigor, percebendo que conseguiria. Mas preferia só se defender.
Agora está ali, sem saber exatamente o que será da vida. Pela janela vê as crianças brincando com os amiguinhos, como se nada houvesse acontecido. Pensa nos filhos.
A vizinha lhe pergunta como foi. Conta que ele chegou do trabalho com muitas dores e vomitando. Começou a vomitar sangue.Muito sangue em postas de coágulos. Levou-o ao Pronto-socorro, deixando-o internado.
Pela madrugada vieram avisar que ele havia falecido.
Aceitou os pêsames com indiferença. Na verdade, naquele momento não conseguiria perceber se ainda haveria tempo para ser feliz.Olhava para os filhos e esboçava um sorriso de consolo.
Era impossível saber o que pensava na volta para a casa. Tudo seria diferente... .Mas não conseguia imaginar como!

.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui