As casas de uma cidade pacata foram construídas perto de um grande parque. Com lago, arvores, pássaros, e sombra, muita sombra.....
Lugar de passeio, bicicletas, triciclos, namoros, descanso, leitura, cochilo, corridas, abraços, beijos. Lugar de tanta coisa boa......
Criancas, adultos, jovens, idosos, o parque reunia a cidade, que era pequena o suficiente pra que todos se conhecessem.
Naquela cidade Dona Maria era a única que não era única, que tinha a da padaria, a do mercado... Também só isso.... Pra ir na farmácia era preciso andar a pé até a cidade vizinha, esta um pouco maior.
Não era tão pacata, porque lá é que se trabalhava. Pequenas lojas de artesanato empregavam alguns, e as marcenarias davam espaço a outros... Naquela época, era mais o homem que trabalhava, e a mulher dos filhos e da casa cuidava...
Pobre cidade que só era pobre porque lá ninguém sabia onde era... apenas quem lá vivia. Chegou um dia em que não mais se vendia artesanato. As peças de madeira começaram a sobrar, e o povo já não ia mais tão contente ao parque pra namorar, passear, beijar, andar de bicicleta.... Começava a faltar dinheiro, e as Donas Marias donas de mercado já nem dinheiro tinham pra comprar comida básica, como arroz, feijão e farinha.
Então foi ai que os homens trabalhadores descobriram que precisariam andar mais e mais, e chegar até uma outra cidade que já nem era tão perto, e nem tão pacata....pra poder trabalhar e algum dinheiro juntar.
O pé chegava cansado, porque não era tão perto. Começaram a ir de bicicleta, e alguns homens progrediram rapidamente....e compraram carros....
Quando o primeiro carro atravessou a rua única daquela pacata cidade, foi um alvoroço....mas um barulho que o parque todo parou pra olhar...
Finalmente o mercado foi reabastecido, a padaria, e assim a cidade começou a prosperar... Outros vieram ali morar, e as casas já não ficavam mais tão perto daquele belo parque central....
A procura aumentou e as pequenas casas do parque ficaram caras, muitos queriam comprar....
Alias, muitos carros já existiam naquela cidade, porque o trabalho ia de bem pra melhor....os homens saiam cedo e muito mais tarde começaram a voltar, porque tinha muito trabalho pra fazer na cidade ao lado...
Alguns voltaram pra sua cidadezinha, abriram outros negócios pequenos, e o artesanato começou a vender novamente... porque agora tinha muito viajante que por ali passava e uma lembrancinha sempre levava.
Carros, carros, mais dinheiro, mais casas....finalmente algumas pequenas industrias de madeira, e assim começou a se poluir o parque....porque era muita fumaça junta....
Já não era mais tão gostoso namorar, andar de bicicleta, de triciclo, porque o ar ficava poluído e algumas crianças e idosos começaram a ter problemas de respiração....
Todos começaram a achar ruim porque as industrias haviam ali se instalado e acabado com o sossego do belo parque e da pequena e pacata cidade....que mais parecia uma vila anteriormente...
Os homens e mulheres já se vestiam com artigos mais finos, viajantes vendiam roupas caras, trazidas de fora.....já havia belas casas de chá onde homens fumavam charuto e as mulheres conversavam no final da tarde.....e o parque continuava lá, belo, mas agora já não era a única diversão da cidade, e o ar continuava um pouco poluído.... apesar dos esforços das industrias em diminuir a poluição.....mas as industrias continuavam a crescer...a vila se tornara uma cidade....já era media e caminhava para ser tornar grandiosa....
Na cidade surgiu um cinema, um teatro, um circo, restaurantes......e não mais em volta do belo parque....
As pessoas começaram a não mais se preocupar tanto com ele.... e surgiram as primeiras reclamações de sujeira, descuido, até pequenos furtos....
Não havia pra quem reclamar, porque agora a cidade já tinha muitos habitantes, e assim ninguém se importava...as pessoas começaram a ir menos a ele, e ele foi ficando vazio....cada vez mais vazio....cada vez mais vazio.....
Até que aquela vila que se tornou uma cidade perdeu o que de mais belo ela possuía. Pra sempre.
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