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Contos-->A mulher da zona -- 30/01/2010 - 15:53 (josé paulo pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher da Zona

Rosinha morava na zona.
Foi criada sem pai e desde menina já era sapeca, vivendo de sacanagens com os colegas da escola.
Era bonitinha, bem acabadinha, como diziam, e, ainda adolescente, já aceitava programas.
A mãe foi morar com um italiano no Paraná e ela ficou sozinha. Não havia outro caminho e, mesmo sem completar dezoito anos, já morava na zona.
Preocupava-se com a aparência, vestindo-se bem, com muitas bijuterias. O dinheirinho que sobrava colocava numa poupança, pensando no futuro.
Rosinha tinha boa cabeça: jamais se envolvia com os freqüentadores, tendo uma postura eminentemente profissional. Mas cativava a todos, sendo muito alegre e comunicativa.
Conversava sempre com o Alexandre, um freqüentador assíduo.
Alexandre era um devasso. Já tinha contraído todas as doenças venéreas existentes. Quando mais novo passou tempos sem sair de casa, vestindo um camisolão, pois nem cueca conseguia vestir, por tantas feridas nos genitais. Havia pegado Cancro Mole, com aquelas ínguas enormes, vazando pus. Era folgado, vivendo de mesadas do pai, dono de um Armazém de Secos e Molhados. Nunca se preocupou com trabalho.
Nunca havia transado com Rosinha que sabendo de seu passado o evitava, dando desculpas de que eram amigos, antes de tudo. Ele insistia dizendo que ela era a mulher de sua vida e que um dia a tiraria da zona para morar com ele.
A idéia não era má e Rosinha, de vez em quando, pensava nessa possibilidade.
Um dia bastante frio e chuvoso, já lá pelas duas horas da madrugada, Alexandre tanto insistiu, acabando por levar Rosinha para a cama. Foi carinhoso e gentil, fazendo com que ela até sentisse prazer.
A coisa complicou na semana seguinte quando Rosinha apareceu com gonorréia. Caiu de bordoadas em Alexandre, fazendo a maior confusão, acabando todo mundo na Delegacia.Rosinha extremamente irada, não se conformava, chegando a procurar a mãe de Alexandre, denunciando-o com irresponsável.
Foi muito bem recebida pela Senhora que se mostrava solidária, fazendo menções de chamar a atenção de Alexandre. Tomou lanche, conversou a tarde inteira, percebendo que nunca tivera uma recepção tão boa em uma casa de Família.
Voltou outras vezes. O casal de velhos começou a gostar de Rosinha. Davam-lhe presentes, faziam bolo de aniversário, cantavam Parabéns. Numa delas Alexandre fez um discurso, enaltecendo as virtudes de Rosinha, jurando ser seu amigo, rogando perdão pelo que fizera, convencendo a todos que aquilo era passado, afirmando ser ela merecedora do maior respeito. A festa terminou com um belo abraço apertado.
Alexandre continuou freqüentando a zona, mas não saía com ninguém. Ficava longo tempo conversando, tomando cerveja e olhando para Rosinha. Era evidente a sensação de ciúmes, mas assim era a vida, não havendo como alterá-la.
Os pais de Alexandre já eram velhos e foram ficando doentes. Rosinha, sempre solícita, procurava ajudá-los. Quando a Velhinha piorou, Rosinha abandonou tudo, ficando por vários dias sem trabalhar, ajudando na casa, cuidando das coisas. Após o falecimento o Velho também foi se acabando. Pouco tempo depois também morria.
Ali estava um Armazém, com alguma freguesia, sem ninguém para administrá-lo. Alexandre não tinha nenhuma experiência, além de ser muito preguiçoso.Conversou com Rosinha que aquele seria o momento; ela se mudaria para lá e ambos tocariam o negócio.Rosinha topou. Achou que seria bom e que a vida poderia mudar.
Arrumou a casa, melhorou o ambiente, refez a freguesia e se entendia com Alexandre, passavam juntos alguns momentos de alegria. Alexandre a mimava com a um felino. Só que era a única coisa que sabia fazer. Não se interessava por nada, nem mesmo quando nasceu o filho, Robertinho. Rosinha trabalhava e Alexandre cuidava do Robertinho.
Algum tempo depois os negócios foram piorando. O Armazém já não dava lucro, começando a surgir grandes dificuldades. Robertinho já estava no jardim da infância e Rosinha não queria, jamais, reduzir o conforto que dava ao filho.
Um dia falou com Alexandre que não havia outra saída: teriam que trazer as meninas e começar um novo negócio. Alexandre esbravejou, dizendo que não consentiria que seu filho ficasse exposto a uma situação daquelas. Rosinha alegava que sempre viveu na zona e nunca perdeu a moral por isso. Se não quisesse que arranjasse outra solução... Não havia.
Venderam o resto da mercadoria, fizeram umas divisórias no salão, montaram um barzinho, melhoraram a cosinha, deixaram a casa agradável. Fizeram um pequeno apartamento nos fundos, onde viveriam com o Robertinho.
Rosinha conversou com algumas colegas, mandou vir de Minas algumas meninas novas. Alexandre começou a divulgar e a casa começou a funcionar. Fizeram até uma inauguração festiva com coquetéis finos.
O movimento era bom. Fizeram algumas adaptações, adequando a casa com uma visão comercial, dando uma característica adequada ao que serviam. Vendiam porções deliciosas e vinhos de qualidade. Rosinha conseguia selecionar a freqüência, fazendo da casa um ambiente mais requintado.Alexandre desfilava garboso, como se fosse um executivo importante.
Durante o dia Robertinho brincava por ali, chamando as meninas de Tia. Elas o ajudavam com as tarefas da escola.Rosinha mantinha um domínio absoluto sobre tudo o que ocorria. Inclusive tinha força para eliminar algum engraçadinho inconveniente. Alexandre trazia para si os méritos dessas tarefas.
Quando solteira Rosinha ficava, freqüentemente, com um advogado, freqüentador da casa onde trabalhava. Um dia ele chegou ostentando a condição de Delegado de Polícia de uma cidade vizinha. Conversou com Rosinha por longo tempo e terminaram num quarto. Alexandre se arrepiava dentro das roupas parecendo explodir de ciúmes. Rosinha com a maior seriedade o acalmou dizendo que não poderia negar um carinho solicitado por um Delegado de Polícia e ele que se acomodasse, pois a vida era assim e não havia como mudar. Só esse Delegado e um Vereador ficavam com Rosinha. O Vereador alardeava com um tipo de proteção que nem poderia cumprir. Mas era melhor não criar problemas com ele. Com o tempo Alexandre se acostumou.
Robertinho cresceu ali. Jamais houve alguém que o desrespeitasse, até porque ele era exemplar em tudo o que fazia. Foi bom filho, bom aluno e bom amigo de todos. Estudou nas melhores escolas.
Em sua Formatura, na Faculdade de Direito, entrou com Rosinha, toda sorridente, num vestido lindo, mas discreto, cumprimentando a todos e sendo o aluno mais aplaudido da festa.Havia um reconhecimento de todos pela dignidade com que Robertinho foi criado e o respeito que demonstrava pela mãe.
Na platéia Alexandre se emocionava, lacrimejando ao ver o filho graduado.Rosinha estava emocionada, mas mantinha a serenidade, sabendo que tinha o direito de se sentir a mulher mais feliz daquela festa.
Naquela noite todo mundo ficou orgulhoso: Alexandre, Rosinha, Robertinho, os amigos, algumas meninas que estavam presentes... .
Todos.
Robertinho desfilava com Rosinha, na festa de formatura com orgulho e felicidade, vendo sua mãe como a Rainha da noite.Se algum receio houvesse de que um amigo ou uma colega pudesse, em algum momento, censurá-lo, esse receio desaparecia pela altivez de Rosinha.Ela estava feliz, por que era feliz.Estava realizada.
Verdade que algumas senhoras tentavam, discretamente, disfarçar um desejo de maior intimidade. É que essas senhoras enxergam em Rosinha a superação de toda a hipocrisia e preconceito. Algumas se arrepiavam quando passavam por suas mentes uma curiosidade sobre o mundo de Rosinha.Os arrepios eram denúncia de desejos reprimidos.
Rosinha não os tinha e era a Dama da noite.
Robertinho desfilava feliz. Alexandre não conseguia esconder certa timidez, mas percebia ser aquele seu momento de maior alegria na vida.
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