BAGRES DE ESGOTO
José Eurípedes de Oliveira Ramos
No encontro de amigos antigos revivemos os amargos dias vividos após 1963. Foram inevitáveis os comentários sobre o caráter de lideretes que hoje se auto elevam à condição de "revolucionários" e, até, de "heróis".
Não nos lembramos deles, em 1963, nos jornais; em 1964, quando participamos do movimento acadêmico; em 1964, ainda, quando respondemos a inquérito policial; em 1968, quando, candidatos a vereador, criticávamos nos comícios o governo militar; em dezembro de 1968, com o AI5, quando, apavorados, acompanhávamos o desaparecimento de amigos. Particularmente, não sei em que toca se escondiam, quando, Chefe de Gabinete e, logo em seguida, Secretário da Educação do Prefeito Lancha Filho, fui acordado à s 2h da madrugada e levado ao Comando da Região Militar para explicar sobre o ensino universitário em Franca. Também não me lembro de nenhum deles, quando, vereador, eu e alguns companheiros, enfrentamos o então oficial do Serviço de Alistamento Militar que pretendia impor ordens à Càmara Municipal.
Também não sei onde estavam os tais "revolucionários" quando, Coordenador Regional do Projeto Rondon e do Mobral, fui denunciado como comunista. Pois é, exatamente eu que sempre preferi ser cabeça de lambari do que bunda de baleia, que nunca me adaptei a doutrinas, a cadeias de comando e à submissão física e moral, que detesto todas as formas de "ismos", "istas", "istos", etc. E como é difícil inocentar-se de maldades e calúnias!. Por outro lado, como é fácil auto promover-se, inventar títulos, comendas, honrarias, ostentar o que não é. Quem ensinava a safadeza era Emílio de Menezes que carregava sempre um livro de Goethe, escrito em alemão. Indagado por um amigo se conhecia a língua germànica, respondeu: "--Não!. Mas, conheço o Brasil". A propósito, "O homem que falava Javanês", escrito por Lima Barreto, é um tratado da enganação. É..., temos "heróis" à s pencas!. Na verdade, heróis, não! Revolucionários, nem tanto! Sequer navegadores de cabotagem! Poucos lambaris! Bundas de baleia, um montão! E bagres de esgoto pra todo canto!!!
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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