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Contos-->Reencontro -- 18/01/2010 - 22:17 (Paulo Marcio Bernardo da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O almoço do dia de Sant’Ana.

Tia Maroca é uma senhora negra e velhinha, que aos 85 anos ainda trabalha na casa de D. Cristina de quem foi babá. A casa já existia quando Tia Maroca foi para cuidar de Cristina e seu irmão Eduardo.
Na época Cristina tinha apenas 10 meses de idade e Eduardo 2 anos. O trabalho era muito, mas Maroca também era bem moça e dava conta de seus afazeres. Muito querida por seu Ludovico e dona Laurinda, seus patrões, pais das duas crianças; a moça negra, alegre e trabalhadeira gostava de fazer algumas receitas caseiras que aprendera desde criança com a sua mãe mineira e criada na roça. Alem da culinária bem simples, como broa de fubá com um gostinho de erva doce, o torresmo pururuca, o frango com quiabo, aprendeu outros pratos mais sofisticados com D. Cristina, tornando-se também uma grande cozinheira.
Tia Maroca ainda hoje, guarda os traços bonitos e pele bem conservada para sua idade, mas o mais importante é sua saúde perfeita e a alegria de viver. Todos os dias ela acorda bem cedo, faz suas orações ao levantar e começa seu trabalho que hoje não é mais de babá, mas de uma “faz tudo” na grande propriedade onde vivem.
Maroca depois de trabalhar na casa há mais de 60 anos não é vista como empregada, mas é tida como uma pessoa estimada e respeitada por toda a família, pois acompanhou o Sr. Ludovico e D. Laurinda, enquanto vivos, criou Eduardo e Cristina e hoje já convive com os netos deles.
Eduardo casou e mudou para uma cidade do interior de São Paulo onde viveu até o seu falecimento, deixando uma filha que também já está casada. Cristina, no entanto, apesar de ter se formado como professora continuou morando em Cláudio, cidade do Estado de Minas Gerais. Lá ela conheceu Alfredo, filho de fazendeiros e se casou. Alfredo é agrônomo e foi funcionário do Estado de Minas Gerais até a aposentadoria. O casal teve três filhos, que hoje estão formados, dois morando em Belo Horizonte e o mais novo, dentista, mora e trabalha em Juiz de Fora.
Maroca conhece todos pelo nome e se preocupa com cada um deles quando não os vê nem recebe notícias.
Entretanto todos se reúnem na casa da avó e tia-avó pelo menos uma vez a cada ano no dia de Sant’Ana (26 de Julho); a Santa de devoção de sua primeira patroa.
A casa bem conservada e com um grande número de cômodos acomoda todos os parentes que juntos relembram dos banhos de cachoeira e das festas que eram fartas e alegres. Todos procuram manter o mesmo ambiente de outrora.
Após a missa das 8 horas é servido um chocolate, café com leite, pão feito em casa, broa de fubá, bolo de banana, manteiga pura, requeijão e queijo frescal mineiro. Depois começam os preparativos para o almoço de confraternização. Tia Maroca é quem escolhe o cardápio variado. Dois pernis de porco já deixados no tempero de véspera são colocados no forno. Sobre o fogão de lenha, um panelão com feijão vermelho, carregado com outras partes do porco e lingüiça feita lá mesmo na propriedade. No terreiro um fogão improvisado com pedras de rio acomoda um grande taxo de cobre meio cheio de gordura de porco que vai preparar a barrigada de porco já cortada em pequenos pedaços e fazer os torresmos abiscoitados. Na mesa de quatro lugares os homens jogam truco e gritam jogando cartas. Entre uma e outra partida param para alimentar o fogo e molhar o bico com uma pinga purinha vinda do alambique de Tom Zé, amigo da família. Pronto o torresmo, e, servido ainda quentinho, todos os adultos saboreiam uma cerveja gelada.
Algumas mulheres na cozinha, supervisionada por Tia Maroca, fazem o arroz bem branquinho, um angu e taioba. Outras preparam as sobremesas como: doce de abóbora com coco, ambrusia e pudim de leite. Se não bastasse, lá fora no terreiro ainda entram no taxo, após a feitura do torresmo, meia dúzia de frangos caipiras que depois de fritos serão juntados ao quiabo que Tia Maroca pessoalmente vai dar acabamento.
O som alto da música tocada em vitrola e discos de vinil lembra canções sertanejas de raiz. Tônico e Tinôco, Milionário e José Rico, Irmãs Galvão fazem a alegria dos mais velhos enquanto a criançada zomba e pede para tocar Cds de Rock e pagode.
Já chegando uma da tarde, Tia Maroca convoca todos para o almoço tão esperado. Em volta da mesa de dezoito lugares se reúnem adultos e crianças para a curta Oração puxada por Tia Maloca que agradece a Sant’Ana a Nosso Senhor Jesus Cristo pela reunião da família e a fartura da mesa. As crianças são as primeiras a serem servidas e vão comer sentadas na soleira da porta da cozinha ou na mesa pequena do terreiro. Os adultos fartam-se com a comidinha caseira bem temperada e com gosto de quero mais.
Como tradição, após o almoço, o primeiro a comer as sobremesas é o escolhido como “garfo de ouro” (aquele que mais comeu). Entre risadas, um prato grande com todas as sobremesas é servido ao guloso. Agora todos comem com prazer um pedaço de queijo acompanhado de uma das sobremesas feitas com as receitas de Tia Maroca.
A refeição terminada é hora de um cafezinho fresco passado no coador de pano e adoçado com açúcar mascavo, e claro, como homem não é de ferro, uma boa soneca na rede ou no gramado, debaixo da sombra do abacateiro.
As crianças voltam a brincar e agora ouvem Rock e pagode. As mulheres coitadas, incluindo-se Tia Maroca, ainda têm a tarefa de lavar os pratos e os demais utensílios usados no preparo da saborosa refeição. Enquanto umas lavam, outras enxugam e vão revezando nas tarefas, aproveitando o momento para contar as novidades familiares e trocar novas receitas.
Fim de tarde. Cada um de sua vez arruma o carro para voltar às cidades de origem. Mais uma vez foi realizada a vontade e costume deixados por seu Ludovico e dona Laurinha em reunir toda a família no dia de Sant’Ana.
A casa de Alfredo e Cristina volta à rotina; Tia Maroca já sente saudade dos parentes visitantes e reza para que no próximo ano ela possa estar viva e com saúde para receber novamente a família que lhe adotou e que ela tanto admira e reconhece como sendo verdadeiramente sua.

15/01/2010
Paulo M.Bernardo










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