Outro dia encomendei um pufe à uma amiga. Não, ela não faz pufes, ou se faz, disfarça bem, pois diz que os pufes são feitos por uma cooperativa de artesãs da baixa Iugoslávia que se radicaram na região de Brasília muito antes de JK saber da previsão de Dom Bosco. Este grupo de senhoras ficou todo este tempo à procura de um material adequado para a confecção de seus pufes. Algo mais parecido com as tripas de elefantes vindos da Croácia. Bem, parece que finalmente encontraram o material certo. Garrafas pet, destas usadas para o transporte de refrigerantes. Mesmo sem menção no nosso Aurélio, chamam-se pet, ou garrafas pet. Aquelas senhoras dedicadas logo montaram uma cooperativa de modo a organizar o trabalho do grupo e esta minha zelosa amiga as descobriu para a fama e a fortuna.
De minha parte, além da necessidade de um pufe, não poderia deixar de contribuir com tão importante iniciativa.
Encomendei um.
Assim, estes são diferentes, pois além da função clássica dos pufes, ele recicla as garrafas pet numa ação política, ecológica e socialmente correta.
Fui conferir e, com um certo pudor e alguma volúpia, levantei a saia do pufe para ver por baixo.
De fato, no lugar das tripas dos elefantes croatas, lá estavam várias garrafas pet, vazias, em sua nova missão. Será que elas gostam? Devem gostar. De outra forma estariam jogadas pelo mundo, destruídas por cachorros inescrupulosos ou carregadas nestas carroças de lixo.
Por outro lado, as garrafas amarradas sob a saia do pufe ficam ali sujeitas ao peso de quem senta e ao chulé de quem descansa os pés sobre o puf, missão a que destino o meu. Prestam serviço inestimável na prevenção da trombose e ajudam moderadamente no conforto do proprietário ou bicão. Sim, pufe tem bicão. Aproveita-se do peso pouco conferido pelos pets e leva embora da minha cadeira de leitura noturna. Depois devolve, de modo que não há dano nem cabe reclamação.
Quando vi o fundo fiquei um pouco espantado pois as garrafas estão dispostas em pé, ou seja, com os bicos para cima. Imaginei que não seria muito agradável sentar naquelas pontas todas. Lembrei do meu projeto de pufe no qual as garrafas estariam deitadas, de modo a evitar acidentes. Descansei quando vi que há uma cobertura de papelão seguida de outra de espuma. Neste caso, já fica viável sentar.
Mas meu objetivo com o pufe é mesmo o de botar os pés enquanto leio. Não sei, mas a lenda conta que a leitura com os pés em pufes é muito mais produtiva. Dizem que é devido a uma condição melhor para a circulação do sangue. Sei lá, não parece verossímil, mas que é mais confortável, é.
Eu pensei que pufe se escrevesse puff, mercê de alguma onomatopéia relativa à maciez que muitos inspiram mas poucos têm. Não, segundo O Aurélio puff existe mas é um termo técnico da biologia, que não me atrevo a tentar entender.
Considerando que ganhei o pufe de presente da amiga, de público agradeço.
Muito obrigado.
___________________________________
O autor mantém uma lista de leitores que recebem suas Cronicas assim que são escritas, não raro ainda com muitos erros. Para inscrever-se basta enviar solicitação para renato.rossi@terra.com.br. Para sair, o procedimento é o mesmo sem demora ou questionamento.
