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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Uma alça após a outra -- 12/06/2016 - 13:29 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


“Vamos ficar juntos hoje, é uma data especial”

“Não, não é.”

“Amélia, vai, você precisa de um namorado no Dia dos Namorados...”

“Preciso tanto quanto preciso de um defunto no Dia de Finados ou de um índio no Dia do Índio”.

Marcos agora deu de me esperar na saída do colégio. Vem, traz comida e me acompanha até o ônibus chegar. Não me incomoda a companhia dele, até acho bom, exceto pelas vezes em que ele vem com essa conversa fiada de voltarmos a ser um casal. Como amanhã é o Dia dos Namorados ele veio com essa.

Dia dos namorados. Dia das mães, dos pais, da mulher, das crianças... Ave Maria, que tem até dia da sogra.

Inventam uma data pra celebrarmos o amor que sentimos pela pessoa amada. Ou pelo menos é o que nos dizem, mas no fundo sabemos que não se trata disso. Não preciso de um dia pra celebrar o amor que sinto. Amor é coisa que nos encharca, transborda, espalha... Faz a gente mergulhar de cabeça e também enraíza nossos pés no chão, na contradição que o amor parece sempre trazer com ele.

Quem ama celebra o amor todo dia. Tem gente que diz que é bom ter uma data definida porque nesse dia a gente mostra o amor da gente, e tá certo isso? Discordo. Tolice expressarmos o amor em um dia induzidos por uma enxurrada de comerciais na televisão. Não sei dos outros, eu prefiro a expressão espontânea de um cafuné, massagem no pé deitada no sofá enquanto passa a novela, enroscamento de pé quando estamos deitados. Cada qual tem um jeito de mostrar seu amor.

Olho pra essas datas especiais e vejo um grande mercado. Quase tudo vira produto embalado em pequenas porções individuais, pronto para ser vendido. Fé? Pague o dízimo, compre aquele tanto de cacarecos ungidos, e pronto, você terá sua dose de Deus. Respeito? Roupa certa. Quem já foi tratado de formas diferentes por conta do traje, sabe do que estou falando. Sexo? Aí depende. Para os homens, basta possuírem coisas para dar às mulheres; para mulheres basta a beleza que a determinação comercial elegeu, e se não nascemos com a beleza padrão não tem problema, tem uma porção de produtos pra deixar a gente com a estampa o mais parecida com a mulher das capas de revistas...

Tem de um tudo nas prateleiras. Curioso é que o produto vendido é igual sanduíche de rede de lanchonete, nunca tem a mesma cara que ilustra a embalagem. É muito diferente. Deixa uma insatisfação na alma da gente. E ninguém escapa. Quem consegue comprar todos os produtos fica insatisfeito, já que o produto não consegue cumprir o que a publicidade prometeu. Quem não consegue comprar, fica insatisfeito por acreditar que os produtos das prateleiras trazem todos os benefícios que dizem trazer, aí fica com a percepção cinza de que sua vida é sempre menos do que poderia ser.

Meu ônibus chegou. Marcos pegou sua motocicleta e foi embora. Na despedida percebi um olhar triste dele, fiquei triste também. Fui todo o caminho de volta pensando na história da gente. Nas cobranças e ciúmes, na ternura e no tesão que sentia por aquele homem. Onde será que vai parar esse mundo de sentimentos que temos quando acaba a relação a dois?

Minha irmã Camélia ainda estava acordada quando cheguei.

“Huuum. Indo dormir com essa camisola de seda? Não é muito recurso pra dormir sozinha, ou pretende fisgar um anjo para despi-la?" Ela esticou o ‘aaanjooo’ num sorriso e tom irônicos.

“Vou dormir sozinha por que eu me amo, e camisola de seda geladinha na pele é um trem que eu mereço”.
Camélia esperava um anjo pra despi-la, eu só queria fechar os olhos e descansar o corpo. Faz muito tempo que deixei de acreditar em anjos, principalmente os desse modelo que só se ocupam em mexer nas alças da gente.

Cheia de charme e dengo me voltei pra ela:

“Não estou fisgando ninguém. Para todos os efeitos, vou dormir assim porque vai que aparece um anjo dedilhando uma harpa e bailando encantadoramente se enfia debaixo do meu lençol e, atrevidamente, me despe uma alça após a outra..."









Desenho e colaboração: Ângela Fakir
http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/

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