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Um dos meus gatos
é negro como o dia
dos desempregados,
dos falidos
e do estivador adoentado
que precisa trabalhar,
sem parar,
pra se alimentar.
Os olhos do meu gato
são amarelos
como a luz
do fim do túnel,
pressa em chegar.
Pêlo longo e frágil,
faz-se a vida
interminável e sentida,
da mulher que finge amar.
Meu felino é um mutante
e repentinamente me remete
a um vasto lugar.
Pula no meu colo
e ronrona,
impositivo e meigo,
feiticeiro dual.
Percepção alterada,
passo a lhe comparar,
feliz e extasiada,
à rara pérola negra,
à noite infinda de luar...
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