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Contos-->TROCA -- 11/12/2009 - 15:03 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Às vezes ao tentar contar uma história não encontramos o ponto exato onde tudo começou, no meu caso tenho esse ponto exato muito claro em minha mente. Era sábado e eu estava deitado na cama e vendo televisão enquanto ouvia, vindo do banheiro, o barulho do chuveiro ligado. Ouvi o momento em que o barulho cessou e poucos minutos depois a porta se abriu e eu quase caí da cama. Saindo do banheiro, ao invés da minha esposa enrolada na toalha, vi uma mulher nua que não se parecia em nada com ela. Corri ao banheiro passando pela desconhecida e conferi que não havia ninguém lá, minha esposa havia sumido! Parei diante da outra perguntando apressadamente quem era, como havia aparecido assim e por quê. Antes de perceber que ela falava comigo, percebi que estava me comportando como louco, eu estava mesmo enlouquecido! Parei, respirei fundo, voltei ao banheiro, peguei a toalha e entreguei à mulher, ela ficou segurando-a como que sem saber o que deveria fazer com ela e continuou falando. Dei-me conta então de que ela estava repetindo algo como se fosse uma espécie de mantra, mas eu não entendia nada e não conseguia identificar que língua era aquela. Sentei na cama e tentei me acalmar olhando para a mulher que continuava em pé e que parecia não saber que a toalha serviria para cobrir seu corpo nu. A primeira coisa que me veio à mente foi que ela parecia uma boneca de plástico daquelas com as quais minha filha brincava. A pele era muito lisa e muito “certa”, os cabelos pareciam sintéticos de tão certos. Detectei “certo” demais na minha definição mental da mulher.

Ela continuava falando e sua voz havia subido um tom, achei que estava se desesperando e por isso olhei de frente para ela e disse, fazendo os sinais que achei adequados, que eu não estava entendendo nada do que ela dizia, ao mesmo tempo tomei de sua mão a toalha e, devagar, enrolei-a em seu corpo de boneca de plástico. Ela foi parando de falar à medida que eu falava, parece que também não conseguia entender o que eu dizia. Quando se calou, caminhou devagar até a cama e sentou-se, parecia ter desistido de entender o que estava acontecendo. Sentei-me a seu lado e perguntei “Quem é você?” Ela me olhou e adivinhei uma incompreensão em seus olhos, percebi, aliás, que os olhos dela, ao contrário do rosto, eram muito expressivos. Lembrei dos filmes de televisão e fiz os típicos gestos enquanto dizia meu nome e perguntava o dela:

- Meu nome é Ivan, eu sou Ivan. – e eu tocava meu peito com a mão esquerda (sou canhoto) – e o seu, qual é o seu nome? - E eu tocava de leve a ponta do dedo indicador na toalha na altura do peito dela.

- Lua – Ela disse essa palavra que parecia com a palavra lua, mas não era exatamente a mesma pronúncia, o L era também um pouco N e o U era também um pouco O.

Eu simplesmente não sabia o que fazer, fiquei em pé e comecei a andar devagar pelo quarto enquanto tentava pensar:

- Onde diabos se meteu minha mulher?

Tentando ser racional e prático, fui até o guarda-roupas e peguei um vestido da minha esposa para a desconhecida “Lua”. Mostrei a ela o vestido, fiz os gestos mostrando que ela deveria tirar a toalha e colocar o vestido para que pudéssemos sair do quarto; eu me sentia um palhaço fazendo todas aquelas mímicas exageradas, e não sabia se ela estava entendendo. Parece que entendeu alguma coisa, tirou a toalha (a nudez parece que não era problema para ela) e pegou o vestido se atrapalhando para colocá-lo, tive que ajudá-la e me parabenizei por ter pegado um vestido tipo robe, o que facilitou muito porque a mulher parece nunca ter visto um vestido em sua vida, ela não sabia nem o que era em cima e o que era embaixo naquele pedaço de pano. Pensei em pegar uma calcinha, mas desisti, o vestido era comprido e o tecido era grosso o suficiente para que ela não tivesse constrangimento, ou melhor, para que ela não ME fizesse ter constrangimento.

Saí do quarto com ela e desci as escadas ainda sem saber direito o que faria. Tenho um casal de filhos e eles estavam na sala jogando vídeo game, nem me viram entrar, tive que chamar por eles:

- Gabriel, Amanda! – os dois se viraram ao mesmo tempo e olharam com estranheza para a mulher

Enquanto a puxava delicadamente para a frente, tentei explicar o que aconteceu tendo total consciência do absurdo que estava falando.

- Sua mãe foi tomar banho e sumiu no banheiro, ela apareceu no lugar, não sei como...

- Por que ela está usando o vestido da mãe? – Amanda perguntou apontando a mulher com o dedo, e sua voz tinha um tom recriminatório.

Antes que eu tivesse tempo de responder os dois falaram ao mesmo tempo, Gabriel e a mulher.

- Quem é ela? – isso foi o que ele disse, também apontando para ela, o que ela disse nenhum de nós três entendeu.

- Como eu disse, sua mãe entrou no banheiro e ela saiu. – eu falava e sentia o quanto era difícil acreditar no que eu dizia.

Meus dois filhos e a mulher começaram a falar ao mesmo tempo, sentei-me no sofá e fiquei esperando que parassem. Pararam daí a pouco e ficaram se olhando em silêncio.

- Que língua ela fala? – e enquanto perguntava, Gabriel veio sentar-se no outro sofá à minha frente.

Amanda sentou-se ao lado de Gabriel e a mulher sentou-se também na outra ponta do sofá onde eu estava. Os olhos dela expressavam mil pontos de interrogação que eu quase podia enxergar envolvendo nós todos.

- Não sei – eu disse um pouco alto demais – não sei quem é ela, não sei que língua fala, não sei de onde veio e ela está usando um vestido de sua mãe – olhei diretamente para Amanda – porque ela saiu do chuveiro nua e tive que dar algo para que ela vestisse.

- E cadê a mãe? – perguntou Gabriel muito baixinho.

- Também não sei – e eu tentava fazer sentido sem conseguir – ela entrou no banheiro, ouvi o barulho da água do chuveiro, depois o chuveiro parou e essa mulher saiu do banheiro no lugar da sua mãe.

- Ela deve ter vindo de um universo paralelo, e a mãe deve estar lá – Amanda apontou o armário onde ficavam os jogos de vídeo game como a explicar que os universos paralelos estavam nas caixinhas de jogos.

- Sei lá, pode ser – joguei o peso em cima deles – não sei o que fazer, vocês sabem?

Meus filhos tinham 15 e 16 anos. Amanda tinha usado seu lindo vestido rosado de baile há duas semanas e Gabriel teve sua festa de 16 anos no mês anterior. A mulher pareceu ter desistido de participar da conversa, levantou-se e começou a andar pela sala olhando todas as coisas com muita curiosidade nos gestos e nos olhos, ela rodou a sala, parou bastante tempo diante do aparador olhando as fotos, pegou algumas, olhou para a foto e para nós e, sem que percebêssemos o momento exato, foi andando para a cozinha.

- Não sei – era Amanda quem falava – podemos ensinar português para ela, mas vai demorar... temos que perguntar onde está a mãe.

- E aquele seu amigo que dá aula de latim – agora era Gabriel quem pensava em uma sugestão para o nosso problema - não conhece um montão de línguas? Talvez ele saiba que língua ela fala.

- Tá – e Amanda olhou o irmão com desprezo – se ela veio de um mundo paralelo, é claro que a língua dela é diferente de qualquer língua que a gente fala nesse mundo aqui, né? Seu babaca!

- Sem ofensas! – e eu tentava botar ordem no caos – a sugestão de chamar o Carlos é boa sim, mesmo que ele não conheça a língua dela, pode ter alguma semelhança com alguma das línguas que ele conhece, isso já pode ajudar...

- Isso é – admitiu Amanda a contragosto.

- Cadê ela – Gabriel olhava para os lados e realmente constatamos que a mulher de plástico não estava mais na sala.

Fomos todos olhar a cozinha, ninguém, saímos para o quintal e lá estava ela, pisando a terra do pequeno jardim que minha esposa cultivava.

- Fiquem com ela, eu vou ligar pro Carlos – fui correndo para dentro da casa deixando a estranha pisoteando a terra e falando, ou resmungando, com meus filhos, ou consigo mesma.

Entrei na sala e, antes que ligasse, meu filho veio atrás.

- Pai, acho melhor esperar um pouco mais antes de fazer qualquer coisa. Essa história é absurda demais, acho que quanto menos gente envolver, melhor... E se a gente tiver que explicar o desaparecimento da mamãe pra polícia? – meu filho tentava esconder o nó na garganta que tinha quando pensava na possibilidade de que a mãe não aparecesse nunca mais...

Parece que de repente acendeu uma luz na minha cabeça: Tentei de verdade não pensar nisso, mas estava o tempo todo lá no fundo... Minha esposa poderia não voltar! Meu filho, mais prático, pensou também nas conseqüências... se ela não voltasse, como eu poderia explicar o desaparecimento dela? Nesses casos a primeira suspeita é sempre assassinato e o primeiro suspeito é sempre o marido. Pelo menos é o que a gente vê nos seriados de televisão.

- Tem razão, melhor esperar... Não vou ligar pra ninguém - Esperei um pouco sem saber o que dizer – vou esquentar o almoço, fica lá fora com sua irmã...

Temperei a salada, arrumei a mesa, fiz nossos pratos, coloquei no microondas e voltei para o quintal. A mulher continuava pisando a terra enquanto com aparente boa vontade mostrava estar assimilando os ensinamentos do curso “português em 10 minutos” que meus filhos tentavam ministrar a ela.

Avisei que o almoço estava pronto e convencemos Lua a sair do jardim e nos acompanhar até a mesa da sala de jantar. Sentamos todos e eu trouxe os pratos, a mulher olhava tudo com muita estranheza e fez uma expressão de supremo nojo diante dos pedaços de frango assado. Enquanto mostrava sua curiosidade e sua aversão, ela falava num tom um pouco nervoso e nós três, é claro, não entendíamos nada.

Amanda fez as mímicas e usou as palavras para explicar a ela que aquilo era comida e que a gente comia assim, olha. Quando pegou um pedaço do frango e colocou na boca a mulher fez a maior expressão de espanto que já vi em toda a minha vida, empurrou o prato, levantou-se da cadeira e mais correndo do que andando voltou para o quintal.

Almoçávamos, levantávamos, ora um ora outro para confirmar que Lua continuava no quintal com os pés na terra e conversávamos a respeito da estranha mulher e seu comportamento diante da comida. Cláudia, nossa empregada que, felizmente não fica em casa nos finais de semana, é uma boa cozinheira, aquilo não tinha como ser uma crítica aos dotes culinários da moça. Só poderia ser uma estranheza provocada por ela ter visto algo muito diferente do que eram seus hábitos.

- O que será que ela come? Perguntou Gabriel.

- Eu acho que ela não come. – Amanda fazia sua expressão de entendida.

- E como é que ela estaria viva sem comer, sua boba, todo mundo sabe que se não comer a gente morre!

- Certo! “A gente” morre. Mas ela é de outro mundo, talvez no mundo dela não se precise comer para viver...

- E ela tiraria nutrientes de onde?

- Da terra. Vocês não viram como ela procurou depressa a terra e como prefere ficar lá do que em qualquer outro lugar. Acho que ela tira energia da terra meio que como as plantas fazem...

- Ela é então uma mulher-alface e faz fotossíntese? Mas não precisa ser verde pra fazer fotossíntese?

- Talvez não seja exatamente fotossíntese, talvez ela tenha outro sistema de tirar nutrientes da terra, outra maneira diferente de tudo que a gente conhece.

- É, pode ser. Eu queria saber como é isso, mas queria mais ainda que a mãe voltasse... – Gabriel colocou uma espécie de amargura de luto nessa última observação.

- Como será que ela está? Deve estar ainda mais atrapalhada do que essa mulher, sua mãe sempre foi exagerada. – Eu tentava imaginar os apuros de minha esposa, jogada de repente em um mundo estranho. Era difícil pensar...

Minha filha não disse nada, baixou a cabeça e colocou mais uma porção de comida na boca, que mastigou e demorou muito pra engolir...

Terminamos o almoço mais rápido do que o normal e voltamos para o quintal onde a mulher estava, em pé e imóvel pisando a terra. Achei que Amanda estava certa e achei que Lúcia não iria gostar nada de ver alguém pisoteando seu jardim, apesar de que, isso eu tinha que admitir, ela pisava com todo o cuidado para não maltratar as plantas.

Deixei que os meninos continuassem a ministrar seu curso relâmpago de português e fui até a geladeira pensando em oferecer alguma coisa para a mulher. Abri a porta e fiquei olhando a cerveja, o refrigerante, o suco de laranja, o iogurte de morango, a garrafa de água. Concluí que a água era mais segura, enchi um copo e levei para o quintal. Amanda entregou o copo a ela que pareceu apreciar muito, pelo menos isso ela aparentemente não estranhou em “nosso mundo”.

- Vou pra sala descansar um pouco. Qualquer problema me chamem.

Estou muito acostumado a tirar uma soneca logo depois do almoço nos finais de semana e meu corpo estava reclamando pelo sofá, cheguei a tirar um cochilo e acordei com barulho de sorrisos. Voltei ao quintal e quase caí duro quando percebi que os três estavam conversando amigavelmente, em português!

Os meninos tinham levado cadeiras para o quintal e eu levei também a minha. Passamos o resto da tarde conversando. Ficou claro que a mulher estranha já não era mais tão estranha. Lua aprendia as coisas com espantosa facilidade mas não sabia explicar melhor do que eu mesmo o que tinha acontecido. Ela contou que estava em casa sozinha porque todos tinham ido à Festa da Limpeza e ela voltara correndo a fim de pegar um livro que emprestaria para uma amiga, quando estava procurando o livro aconteceu “aquilo”; em um momento ela estava em sua sala e no momento seguinte estava no nosso banheiro.

Nós ficamos imaginando o que faria Lúcia sozinha na casa de Lua, ficamos perguntando mil coisas a ela para ver se conseguíamos imaginar uma maneira de ter certeza de que nossa esposa e mãe estaria bem. Lua tentou nos tranqüilizar dizendo que todos os que moravam com ela eram pacíficos e compreensivos.

- Todos a receberão bem, e antes de voltarem da festa ela terá tempo de conhecer a fábrica.

- Fábrica? Você mora em uma fábrica?

- É, moramos em uma construção bem grande que, muito antes, foi uma fábrica de brinquedos.

- E por que não é mais uma fábrica de brinquedos?

- Na verdade ainda é, só que não é mais fábrica só de brinquedos. Nós fazemos também enfeites, presentes e molduras pra quadros... coisas assim. Além disso, antes, ela era uma grande fábrica com muitos funcionários e uma grande produção, agora somos em onze pessoas e produzimos muito menos do que a quantidade que se produzia antigamente para vender aos montes para outras cidades e outros países.

- Quantas famílias vocês são?

- Uma só, oras...

- Uma só, mas então você tem nove filhos? – Acho que Amanda não achava que Lua parecesse uma mulher que tivesse tido nove filhos...

- Não, eu não tenho filhos. Somos todos adultos e formamos uma família porque estamos vivendo juntos na fábrica, tivemos um filho uma vez, mas ele cresceu e foi viver em outra família.

- E ele não vem te visitar?

Teve muitas perguntas, muitas explicações, muitos estranhamentos de ambas as partes, eu quase não falei e, quando achei que estava na hora, fui até a cozinha preparar o jantar, Gabriel levou outra jarra de água para deixar ao alcance de Lua. Pelo que entendi da conversa o mundo de Lua era muito diferente desse em que ela foi cair mas o mundo dela havia sido, em épocas muito remotas, bastante parecido com o nosso. Talvez – e foi uma idéia que me passou pela cabeça assim de repente e, é claro, uma idéia muito influenciada pelos muitos filmes e livros de ficção científica que já vi. Talvez o mundo de Lua não fosse tão outro, talvez fosse o mesmo em outra época... será que ela é, no final das contas, uma viajante do futuro?

Mas tínhamos um problema prático e tivemos que resolvê-lo, depois de conversarmos muito durante o jantar liguei para a polícia e demos queixa do desaparecimento de Lúcia. Esse telefonema, como era de se esperar, desencadeou uma via crucis que nunca mais parou: policiais aparecendo para fazer perguntas nas horas e lugares mais impróprios, familiares vindo à nossa casa como se fosse para um velório, contar a mesma história um milhão de vezes e até mesmo fazer reconhecimento de cadáveres.

Conseguimos esconder Lua durante algumas semanas e depois ela surgiu como governanta e acabou levantando bem menos suspeitas do que esperávamos, nem Cláudia, que passava a semana toda em casa, fez qualquer ligação entre o desaparecimento de Lúcia e o surgimento de Lua. Acho que se estivéssemos com essa história em um daqueles seriados de tevê em que detetives investigam um desaparecimento e, depois de muitas reviravoltas acabam conseguindo encontrar, julgar e condenar o assassino, eu teria sido julgado. É claro que a cumplicidade e esperteza dos meus filhos fez toda a diferença.

Aos poucos Lua, que tomou posse do quintal e do quarto de hóspedes, foi se adaptando à rotina da casa e começou a ver televisão durante a tarde como quem estudava, com aplicação e empenho, uma matéria da qual não gostava muito. À noite eu voltava do consultório e conversávamos sobre o dia, volta e meia a lembrança de Lúcia embaçava os olhos de Amanda ou de Gabriel e tornava mais áspera e difícil a minha voz. Sempre tentávamos pensar que ela estava bem e a descrição que Lua fazia de seu mundo ajudava muito nesse processo.

- Mas, Lua, se vocês não comem, se não se ferem, se não podem matar nem vegetais, como minha mãe vai conseguir sobreviver? Ela é como nós, precisa comer para viver, mesmo que seja apenas frutas e legumes...

- Meus amigos vão conseguir, com toda a certeza, encontrar frutas maduras e vegetais ainda frescos que as plantas dispensam naturalmente e darão de comer a sua mãe, Gabriel, não se preocupe, se tem uma coisa da qual tenho certeza é que ninguém vai permitir que sua mãe morra de fome, juro.

Essas afirmações sempre nos deixavam menos preocupados e o tempo é um remédio que age mesmo contra a vontade dos doentes, aos poucos a lembrança de Lúcia ficou menos dolorida e não era mais tão comum que eu ouvisse – e fingisse não ter ouvido – os choros abafados de Amanda ou de Gabriel nos seus quartos. Procurei respeitar a privacidade deles e só demonstrava minha compreensão, e os abraçava e consolava da melhor maneira que conseguia, quando eles não escondiam esses soluços e anunciavam sentir saudade da mãe.

Um dia Lua foi embora. Anunciou de repente que resolvera se aliar a alguns biólogos e morar numa reserva onde ajudaria a cuidar de animais e proteger as matas, não ficamos muito surpresos na verdade. Já que não tinha como voltar para casa, ela só poderia mesmo optar por uma vida que tivesse ligação com a natureza e que a deixasse em contato com a terra, que é a única que a alimenta. Só esperávamos que Lúcia também tivesse encontrado algo interessante para fazer de sua nova vida. Ela sempre levou jeito com artesanato, talvez esteja se sentido bem com uma família que fabrica brinquedos.


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