CRIME HEDIONDO
(em memória do guerreiro pataxó Galdino)
Paccelli M. Zahler
Asa Sul, madrugada,
Dorme um guerreiro
Sonha com suas terras
Griladas por fazendeiros.
Longe de casa e só,
Quer reaver o chão
Que o branco tomou,
Cego pela ambição.
Na aldeia pataxó,
Irmãos esperançosos
Aguardam boas novas,
Dias mais ditosos.
Eis que um carro pára,
Cinco jovens se aproximam,
Jogam-lhe álcool nas roupas,
Riscam fósforo e caçoam.
As chamas tomam vulto,
Os jovens fogem correndo.
O socorro foi inútil,
O índio acaba morrendo.
Tutelado pelo Estado,
Galdino não escapou.
Morrera queimado
Nas barbas do tutor.
Presos posteriormente,
Os jovens confessaram.
Era uma brincadeira,
A morte, não esperavam.
Pensavam ser um mendigo,
Vagabundo, desocupado
Que, dormindo ao relento,
Merecia ser queimado.
Não pensavam ser um índio
Tutelado pelo Estado
Que problemas lhes trariam
- Um crime qualificado!
Quatro anos se passaram
Desde o acontecido.
Da cadeia, escaparam,
Galdino fora esquecido.
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