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Contos-->POR UMA DUZIA DE OVOS COZIDOS / Ernesto Montenegro -- 18/11/2009 - 03:55 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
















O poeta sem limites apresenta nos










“Melhores Contos da Literatura Universal”






POR UMA DUZIA DE OVOS COZIDOS

Era uma vez um homem, pobre a mais não poder, que resolveu ir às minas tentar a sorte, deixando o quase-nada que lhe restava em casa para o sustento da mulher e dos filhinhos. Andou, andou, e lá um belo dia chegou a um povoado, onde teve de fazer das tripas coração para não pedir alguma coisa com que não o deixassem cair de fome; mas, finalmente, bateu à última porta, onde estava uma mulher sozinha ao pé do braseiro, com o seu gato e as suas galinhas.

— A necessidade, patroazinha, me obriga a lhe pedir que me arranje pelo menos alguns ovinhos, que quando eu voltar das minas lhe pagarei bem pagos.

Naquele tempo os ovos eram tão baratos, que muitas vezes nem valia a pena ir buscá-los nos chocos; e como a dona da casa tinha o tacho fervendo para tomar o seu mate, tirou um punhado na canastra e os pôs a cozinhar, enquanto rezava três credos.
Foi-se o mineiro, muito agradecido com a sua dúzia de ovos, e graças a eles conseguiu chegar até à Descobridora, onde diziam que se estava juntando dinheiro que não era brinquedo.
Decorridos uns dez anos, o mineiro viu que já estava rico, e era tempo de voltar para a sua terra e socorrer a família. Porém não se esqueceu de passar no povoado, para cumprir a promessa feita à mulher das galinhas. Em frente à casa, parou a tropinha de burros que vinha tocando.

— Não me conhece mais, avozinha? Não se recorda do que lhe prometeu aquele pobre que passou por aqui nas casas, e a quem você deu uma dúzia de ovos? Pois bem: uma destas cargas de prata é para você; escolha a que mais lhe agradar.

E despejou umas tantas pratas no chão.
A velha já estava com a vista fraca, e muito dura de ouvido. Mas, como sucede a tantos outros, com a idade tinha ficado avarenta:

— Como é, moço? Tudo que esses burros levam é prata? E você foi ganhar toda essa prata depois que me pediu fiado os ovos? Hum...

A velha não se podia conformar que lhe dessem uma carga, somente uma, quando os burros eram tantos! Não tivesse ela bom coração, e boa minazinha ele teria encontrado!

— Quanto tempo faz que lhe vendi esses ovos?

— Dez anos, pelo menos. Foi antes do Grande Tremor de Terra.
Com uma cara muito azeda, ela voltou-se para o homem:

— Então, caro senhor, toda essa prata é minha! Homessa! Já se viu maior desfaçatez: querer contentar-me com uma carguinha... Se em vez de lhe dar ovos eu os tivesse posto a chocar, quantos milhares de dúzias de ovos e de pintos imagina que eu teria agora? Não, senhor, não me venha com espertezas. Então, porque vê a gente vestida de lã, pensa que está tratando com ovelha? Ajude-me a botar esses burros no curral, vamos!

E empurrão pra cá, bordoada pra lá, fez entrar os burros e trancou a porta.
O mineiro, que era uma pobre alma, não sabia que fazer com o diabo daquela velha. Deitar-lhe abaixo a porta, quando nem ao menos os cães o conheciam, talvez fosse pior — refletiu.
Voltando para o centro do povoado, a passos lentos e de cabeça baixa, ouviu alguém lhe perguntar:

— Então, amigo, que foi que perdeu?

Era um homenzinho de fraque cor de chumbo e nariz muito vermelho, que andava com o chapéu sobre os olhos e meio como se estivesse tocado.
Num instante o mineiro lhe contou o que se passava.

— Não se aborreça, amigo velho. Olhe, eu sou advogado diplomado, e lhe prometo que amanhã ganhamos a questão. Providencie para que mandem à velha uma citação, lá para as duas da tarde, e me espere no tribunal.

E tirou-lhe o último peso que lhe restava, “para completar o pileque”.
No outro dia, já a velha estava em presença do juiz, e do rábula nem sinal.

— Que faz o seu advogado que não vem? — disse, de muito má cara, o juiz ao pobre mineiro. — Fique sabendo que, se ele não chegar a tempo, eu o condeno, inclusive nas custas.

Estão batendo as duas horas, quando entra o rábula, muito vermelho, com o nariz que nem um pimentão.

— V. Sa. me perdoe o atraso — disse ele ao juiz —, mas com a pressa que tinha em cozinhar uma cevada para semeá-la...

— Vá contar essa história 1a sua avó! — gritou-lhe o juiz, dando na mesa uma pancada, que por pouco não a partiu. — Além de se fazer esperar, o cavalheirinho, ainda por cima, vem rir nas bochechas da gente! Onde já se viu alguém pôr a cozer a semente antes de semeá-la?

— Estranho que V. Sa. se aborreça comigo porque lhe digo que estava cozinhando uma cevada para semeá-la, e deixe que esta mulher venha contar-lhe que podia ter tirado milhares de ovos e pintos de uma dúzia de ovos cozidos que deu, há dez anos, a este bom homem.

— Como? Estavam cozidos os ovos, senhora? jure dizer a verdade! — gritou-lhe o juiz.

— Tal como diz Vossemecê. Melhor ainda: cozidinhos.

— Então, moço, pague seu real e meio a esta velha desavergonhada, e leve a sua prata, que muito lhe custou a ganhar — disse o juiz ao mineiro.

O mineiro deu uma carga de prata ao rábula, por lhe haver defendido tão bem a questão, e foi com os seus burrinhos para casa, muito contente da vida.




Autor: Ernesto Montenegro
Produção Visual: Carlos Cunha








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