A TESE DA ORELHA
Aos sábados, pela manhã, ocorrem os costumeiros encontros de trabalho dos voluntários do Veredas. No último de que participei, estavam os frequentadores habituais: Cruz, Regina, Zelma, Marlene, Joana, Luís Henrique, Yamashita, Marcos, Renan, e outros. Mesmo no recreio, o papo inevitável é sobre literatura. Não há assunto que não escorregue para a literatura. Até o Tião Carreiro manda lá seus palpites.
Em sua permanente inquietude, o Cruz lamenta e cobra o registro dos fatos importantes, para preservação da memória cultural da cidade. Acentuando a franqueza, a voz rascante, escandindo as sílabas, Cruz:
--Fulano já morreu; ciclano já bateu as botas; beltrano tá vai-não-vai. E ninguém cuidou de gravar uma entrevista com eles. O C.A. tá muito velho e vai morrer logo. Ele tem coisas importantes a contar. É preciso gravar uma entrevista com ele, imediatamente.
Aí, Renan atalha:
--Vai nada... vai viver muito, ainda!...
--???
--Como é que você sabe ? - pergunta Yamashita.
--Por causa da orelha... vocês já viram o tamanho dela?... Então..., a gente vive o tanto que corresponde ao tamanho de nossa orelha... lombrosianamente falando!!!...
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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