O que Fui
O que fui foi nunca ter ido a Lisboa,
E quando fui, deu bem para perceber
que para mim não era boa.
Eu não era dali, nem da minha aldeia,
Tão linda, tão feia.
Paraíso, cadeia.
O que faltava?
Era entrar, sair da prisão, pisar na rua
que não tinha com se fosse minha.
Enterrar-me ali, fincar raízes naquele chão.
Deixar de sonhar, deixar Lisboa lá no seu lugar.
Entregar meu corpo aos vermes do lugar.
Sem partida, sem despedida, aceitar a vida
sem questionar.
Deixar de ir à missa, não por preguiça.
Mas por saber que nem ela me podia valer.
Era melhor não pensar, não sonhar, não rezar.
Viver como quem vive à espera de morrer.
Não frequentar as festas do lugar.
E muito menos dar vivas ao Salazar.;
Lita Moniz
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