Esteve em Goiânia, no dia 31 de outubro último, o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, participando como convidado especial do projeto Literatura em Cena, da Universidade Católica de Goiás (UCG). Numa palestra, que por aproximadamente duas horas lotou o auditório Lagoa Azul, no Centro de Convenções, o autor falou sobre seu trabalho como escritor e sobre seu livro Pessach: a travessia, adotado para os vestibulares da UFG e UCG este ano. Cony, 76 anos, carioca, é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), cronista do jornal Folha de São Paulo, e já trabalhou em vários outros jornais e revistas.
LITERATURA E SOCIEDADE
O autor discutiu o papel da literatura como importante veículo de conscientização social, afirmando que a obra literária não tem de ser bela: deve antes provocar a reflexão.
Este tipo de ligação pode ser encontrada em toda a sua obra, cujos personagens interagem sempre com as questões sociais e indagações filosóficas de seu contexto histórico. O autor também confessou haver um alto teor autobiográfico em seus livros.
PASSANDO POR CIMA
Comentando seu livro Pessach: a travessia, Cony viaja pela idéia de contradição presente em suas páginas, começando pelo título (Pessach: termo hebraico que significa passar acima, e travessia, ou ato de passar através) , passando pela vida de seu protagonista José Simões, jovem escritor judeu, vergonhoso de sua origem, que acaba envolvendo-se com forças guerrilheiras e é atormentado pela decadência física e mental de seus pais; e pela mentalidade dos revolucionários do país, onde o Partido Comunista entrega aos militares a localização dos acampamentos dos guerrilheiros.
BAGUNÇA
O público, composto por uma multidão de estudantes secundaristas, uns parcos alunos universitários, e alguns professores, superlotou o auditório, cobrindo até mesmo o chão dos corredores entre as poltronas.
O que no início parecia ser uma grande animosidade e excitação pela palestra transformou-se num burburinho interminável. Os alunos de cursinhos mostraram-se bastante mal educados, conversando entre si o tempo inteiro e não raramente interrompendo a palestra. Cooperaram para isto a fraca organização, que além de cometer várias gafes, não fez a menor questão de conter o público, e os displicentes coordenadores dos cursinhos, preocupados apenas com o marketing de suas escolas. Além disso, as perguntas dirigidas ao escritor, em sua maioria, eram fracas e de pouca ou nenhuma relevância. Felizmente, o autor demonstrou uma grande paciência, e com uma grande inteligência e idéias incrivelmente lúcidas, conseguiu, mesmo que aparentemente um pouco embaraçado, contornar a situação e fazer-se compreendido. Nota 10 para Carlos Heitor Cony. Já para os estudantes goianienses...