O banheiro social quebrado me exigia a utilização das dependências sanitárias da empregada que só aparecia duas vezes por mês para a limpeza do apartamento. Limpeza digo mal, retirada apenas da grossa poeira que tudo cobria.
A passagem pela cozinha me obrigava a passar tambem pela janela que dava para a área interior de quatro edifícios. Parar nela era ato obrigatório e rotineiro... Olhar as flores do jardim da D.Olga que ficava no andar térreo, a chuva a bater na coberta do andar de baixo do outro edifício, olhar o meu jardim suspenso, jardim que criei no parapeito de uma outra janela, assistir ao bailado dos pássaros sobre as flores que sorriam alegres...
A visão que se descortinava aos meus olhos era ampla fazendo de cada janela um palco encenando as comédias da vida, comédias do cotidiano que iam das brigas amorosas dos primeiros anos de casamento e que normalmente terminavam em sexo, as brigas rancorosas, aquelas acontecidas após o quinto ou o sexto ano de tempo de convivência da rotina matrimonial.As brigas das crianças que em alaridos e xingamentos atordoavam a todos...A sinfonia das músicas várias que tocadas ao mesmo tempo cada uma tentando sobrepujar a outra. A entrada sorrateira de uma pessoa num quarto, o baixar da cortina e os cantinhos da bunda a subir e a descer...Este, o grande espetáculo que não tinha hora para começar nem para terminar. Começava com a minha chegada na janela e terminava com a saida.
Vou tentar narrar as passagens que mais me chamaram a atenção e que presenciei de um ponto privilegiado, a janela indiscreta do meu apartamento.