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Contos-->O último pecado -- 22/04/2001 - 17:58 (Claudia Sanzone) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já haviam se passado horas e aquele conto não chegava ao fim. A idéia era montar uma história que destilasse as fraquezas humanas representadas pelos sete pecados capitais. A situação mostrava-se propícia ao enredo. Um casamento ruído, intrigas entre os familiares e estremecimentos nas relações de trabalho serviam de substrato ao sofrimento do escritor. A solidão se aliava àquela sala pequena, silenciosa e de pouca mobília. Só se ouvia o ritmo monótono das batidas do teclado e o bocejo esporádico do autor, que entre um parágrafo e outro, abandonava seus braços e deixava o olhar espiar vazio.

O vidro transparente da janela filtrava a visão do ambiente externo. E a tela do computador ia registrando o desabafo do escritor que tentava transformar seu desapontamento em alguma forma de arte. Cada vez que punha os olhos para além da vidraça, buscava no jardim um auxílio para o assunto que tratava.

Lá fora, uma andorinha que se negava a dividir as sementes que recolhera, tentava, sozinha, fazer verão. Tanta mesquinhez inspirava as primeiras linhas do pecado da avareza. A gula foi traduzida por um lagarto apressado, que parecia comer cru um inseto bem maior que sua boca. Insaciável e voraz, devorava a presa com sofreguidão. A mariposa de cores apagadas jogava areia no vôo de uma borboleta que trajava asas de um colorido resplandecente. O escritor extraía da cena os caminhos escusos da inveja.

Esticando a visão para um pouco adiante do muro do jardim, o autor observou dois cães se engalfinhando na rua. A ira extravasada daquele combate atravessou a janela para inspirar o trecho mais dramático e intenso do conto. A responsável pelo combate entre os machos era uma cadela no cio, com seus instintos inebriados de volúpia. Traduzia a luxúria e, sem se dar conta, contrubuia para ilustrar as passagens mais ardentes da história.

O gato, companheiro inconstante do escritor, entrou sorrateiramente na sala. Esgueirou-se entre as pernas do dono e, quando esboçava uma súplica de carinho, ergueu a cauda e se foi. Seu gesto influenciou o orgulho dos personagens daquela narrativa que aos poucos chegava ao fim.

Relendo vagarosamente o desenrolar dos acontecimentos, o escritor notou que seis dos setes pecados estavam ali representados. Avareza, gula, inveja, ira, luxúria e soberba, todos presentes. Faltava a preguiça.

Despojado na cadeira, começou a aceitar que seu desânimo não mais cabia em si. Foi então que olhou para o próprio umbigo e concluiu o conto.
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