Trabalho de Casa
É hora de passar a agenda a limpo.
Dia primeiro de janeiro. Não importa o ano.
Mesmas decisões, velhas promessas, cheiro de atitude.
Há anos que vejo os mesmos nomes, celebro os mesmos aniversários, choro as mesmas perdas (que vão aumentando à medida que encolho).
Brigo, defendo, debato, confraternizo.
Danço nas festas, canto nas viagens, distraio nas dores, choro nos abraços felizes.
E todo ano é o mesmo ritual.
Hoje folheava a agenda, num desses arroubos de ajeitar as coisas para o novo ano, quando me deparei com um nome, alguns comentários a respeito de algo. Parei e lembrei. Quantos sonhos um nome pode representar? Quantos pensamentos foram destinados àquele nome, àquele personagem de mais um de meus dias? Foi uma doce recordação. Por onde andará agora, após tantos meses sem notícias? Por qual motivo nos distanciamos? Tempo? Vontade? Iniciativa? Distância? Ah, nada disso atrapalharia um relacionamento bom. Mas era bom, não era?
Mais algumas páginas e lá estava o nome outra vez. Ao lado dele, uma anotação feliz. Parece que faz tanto tempo...
Novas páginas viradas, e mais outras, outras mais, e lá está o nome, com nova anotação, e o papel um tanto manchado, algo enrugado, como que banhado por alguma lágrima desnecessária. Isso, um nome desnecessário, numa agenda sem sentido.
Será que eu também seria uma lágrima à toa em alguma página de alguma agenda? Por quantos caderninhos terá meu nome sido escrito? Quantas lágrimas necessárias foram derramadas por meu nome?
Ah, Anos Novos sempre me fazem pensar nos ausentes e nessa minha antiga mania de não querer deixar para trás um nome sequer, como se disso dependesse minha memória, minhas lembranças de felicidade, minha lucidez.
E não é que já é 2003?
Beijo a todos vcs,
Lílian Maial |