"A crise cria a oportunidade de irmos às raízes da ética e descermos àquela instância na qual se formam continuamente valores. A ética, para ganhar um mínimo de consenso, deve nascer da base última da existência humana. Esta não reside na razão, como sempre pretendeu o Ocidente. A razão não é o primeiro nem o último momento da existênica. Por isso não explica tudo nem abarca tudo. Ela se abre para baixo de onde emerge, de algo mais elementar e ancestral: a afetividade. Abre-se para cima, para o espírito, que é o momento em que a consciência se sente parte de um todo e que culmina na contemplação. Portanto a experiência de base não é "penso, logo existo", mas "sinto, logo existo". Na raiz de tudo não está a razão ("logos"), mas a paixão ("pathos")."
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Leonardo Boff, em "Como fundar a ética hoje?", Folha de São Paulo, 15/06/2003]
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