Outro dia fui a uma inauguração e reforma de banheiro. Devo dizer que é muito melhor que aniversário de boneca, pois na primeira tem vinho e tábua de queijos e no segundo apenas refrigerantes normais. Nem mesmo a versão "diet" tem por não serem convenientes à s crianças. Eu acho.
Aqueles que não conhecem este tipo de festa prestem atenção, para evitar gafes.
Tratando-se de uma inauguração, naturalmente, há que olhar o objeto de tal ato e elogiá-lo. É o mínimo que a dona, autora e executora da reforma espera, quando mais não seja, por que realmente ficou muito bom. Além disso, todo aquele vinho, pães, queijos e sobremesas exigem pelo menos o afago no ego de nossa artista. Tinha azeitonas e berinjela também, mas eu não gosto de berinjela.
Se, por acaso a dona insistir em que você use o banheiro, feche a porta, observe todos os detalhes mas não faça nada. Este negócio de usar é apenas uma força de expressão. Se todos os convivas usarem o banheiro ficará num estado inapreciável. Contenha-se, não leve tudo tão a sério. Neste dia solene o banheiro não deve ser usado para não estragar a visita dos demais participantes. Se necessário, use outro.
Não, não espere uma inauguração formal com corte de fita e discurso. Isto não fica bem. A inauguração, menos que propriamente uma inauguração é uma comemoração pela vitória alcançada, mais uma etapa da vida, mais um objetivo alcançado, uma ode ao trabalho e à criatividade. Também em geral não há discurso, é tudo muito discreto.
Cabe informar que o banheiro em questão foi reformado pessoalmente pela proprietária, minha grande amiga e comadre que, além de impecável qualificação profissional, tem dotes para o artesanato e muito bom gosto. O banheiro objeto da inauguração foi reformado a fim de melhor acolher a mãe desta minha amiga. O marido, ou genro se preferirem, ficou observando tudo e ao que consta lhe coube apenas a ligação de alguns canos sob a pia. O resto foi minha comadre que fez.
Azulejos apenas no espaço de banho, separado por vidro blindado. Paredes pintadas em alvo branco. A uma certa altura, um friso azul combinando com o azulejo do espaço de banho, muito discreto. Tudo muito limpo como convém aos banheiros.
Em algum lugar que não sei precisar, um artefato azul (tudo combinando), de utilidade indeterminada. Depois de muita investigação, descobri que se trata de um pufe e, pasmem, feito de garrafas "pet" devidamente unidas e arrematadas com uma fina, mas suficiente, làmina de espuma (as garrafas estão em pé), tudo isto recoberto por uma capa de bom acabamento. Os miúdos do pufe só são revelados se o curioso o levantar e insistir em olhar por baixo, como que olha por baixo da saia de uma moça. Deve-se evitar. Do contrário jamais imaginará do que é feito. Ficou muito bom e eu me apressei a assinar uma opção de compra de um igual antes que o preço suba. Seu destino porém não é o banheiro - não sei o que fazer com ele lá - mas o lugar onde costumo ler. Preciso levantar as pernas.
Há quem ache inauguração de reforma de banheiro não merece uma festa para sessenta pessoas. Há quem ache um absurdo e há quem adore. Há ainda os que gostariam de promover festa semelhante mas têm vergonha, receio do ridículo.
Para estes últimos, sugiro que não se acanhem. Disfarcem e digam que se trata de uma festa surpresa para o marido ou para a mulher.
