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cronicas-->Fotos, máquinas e memórias -- 29/11/2000 - 19:46 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um cheiro de fumaça invadiu a minha sala. Imaginei o que poderia estar acontecendo quando o interfone tocou: Fogo! Está pegando fogo no 507! Rapidamente saí do apartamento e peguei o elevador. Enquanto descia, fiquei pensando quem seria o morador do 507. Seria alguém conhecido? Haveria pessoas lá dentro?

Lá embaixo a confusão era total. Carros de bombeiros, pessoas ziguezagueando para lá e para cá, olhares curiosos e gritos histéricos.

Mariza estava em estado de choque, sentada na escada logo na saída do bloco . Duas amigas a abanavam, davam-lhe água com açúcar, e a confortavam como podiam. Informei-me de que o fogo não vinha do seu apartamento. Respirei aliviada. Marisa não era nenhuma amiga mas eu a vira algumas vezes.Ela estava muito aflita. Sua aparência era de languidez como se todo o seu sangue tivesse se esvaído do corpo. Chorava sem controle, obrigada a abandonar o seu apartamento, pois o fogo se alastrava perigosamente no apartamento vizinho.

Olhei para cima e vi labaredas saindo pelas janelas. As chamas eram tão altas que já lambiam as cortinas e até os pequenos ladrilhos da fachada começavam a cair como gotas de chuva. A cena era chocante. Nunca vira nada igual em toda a minha vida.

Caminhei entre as pessoas e fui juntando informações e fatos. Alguém saiu do apartamento deixando um aparelho ligado. Um curto-circuito fora a causa do incêndio. A moradora ainda estava trabalhando e alguém já providenciava para que ela fosse avisada da tragédia. Por falar em tragédia, parece-me que as pessoas gostam de vê-la, acostumaram-se com as más notícias, com os documentários recheados de violência e desgraça. É verdade que muitos se solidarizam, se mobilizam para ajudarem no que puderem. Mas o fato é que são poucos. Não existe verdadeira tragédia sem curiosos aos empurrões.

Para não me enquadrar nessa última categoria, resolvi abandonar o local (enquadrando-me na categoria dos que abandonam os locais trágicos). Dei mais uma olhadinha no fogo, percebi que os bombeiros não estavam conseguindo dominá-lo. Lembrei-me daquele outro episódio em que eles também falharam. Não poderiam mais falhar. Não dessa vez.

Com esse pensamento retornei ao elevador e cheguei ao meu apartamento. Bem ali, naqueles poucos metros quadrados, estava toda a minha vida. Fiquei pensando no que salvaria dali. Ah, minhas fotos! São elas o registro de toda a minha vida, são minhas memórias. Faria um grande esforço para salvar as minhas pinturas, minhas obras de artista. O meu teclado! Não poderia esquecê-lo. Lembrei-me da máquina de escrever na qual eu ensaiei as minhas primeiras letras. Aquele máquina que minha mãe me dera com tanto esforço, também me esforçaria para salvá-la. E por fim, o computador, meu companheiro nas horas de criação. E meus documentos, é claro! Faria um grande esforço para salvar tamanhas preciosidades.

O fogo poderia destruir o resto, não teria importància. Mas a minha criação artística, literária, lembranças eternizadas em imagens ou sons, ah! Isso nunca permitiria que fosse roubado ou destruído pelo fogo!

Estava absorvida por esses pensamentos e vi que um bom tempo se passara. A essa altura o fogo estava controlado mas já havia tragado tudo. Tudo estava destruído, fotos, documentos e quem sabe algum computador ou máquina antiga. Pobre mulher aquela...

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