Após a aurora
Em que sempre passo café forte
E fico tonta na janela da cozinha,
Com dourados e vermelhos
Que me aquecem,
Preparo-me.
Nessas horas, há uma magia doce.
Cerco-me de panelas,
Escolhendo devagar temperos
E ingredientes.
Hoje, o bacalhau.
Azeite, tomates, batatas,
Panela de barro,
Azeitonas negras como a noite,
Perfumes secretos que não conto.
As horas passam.
Saio para novas compras
De coisas que imaginei.
Vinho branco, seco, rascante,
Cebolas novinhas em folha,
Pimentões , sálvia e segredos.
De volta,
Escolho um vinho tinto
Para minha companhia.
Ponho Dulce, Bocelli, Emma.
Acendo velas e incensos
Para o momento sagrado
De preparar a comida
- como quem faz um poema
Ah, são versos que monto
No barro da panela
Perfumados e gentis
Para mae, filhos e amigos
Na mesa, toalha vermelha,
Arroz branquinho com espinafre,
Salada fresca, colorida
Como minha alma que canta
O bacalhau, que perfume...
Alimento tanta gente
E fico em festa, sorrisos,
Com os olhinhos brilhando...
Ah, mundo tão mágico,
Ah, vida que me embala
Em braços quentes e doces...
Alimenta minha alma
Com gostos, cores, perfumes!
DOMINGO DE PÁSCOA - 2001
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