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cronicas-->Sem Ressentimento -- 12/05/2006 - 16:48 (Nezinho Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eram já quase onze horas da noite e a reunião havia chegado ao fim. Um fim em grande estilo. Após mais de três horas de conversação o dono da casa mandou servir cerveja, refrigerante e ...comida.
O clima de compenetração da reunião transformava-se, abruptamente, em balbúrdia. Um tanto deslocado, e já com as pernas cansadas de tanto ficar em pé, procurei uma cadeira onde me assentei, aproveitando para ultimar os detalhes técnicos da pauta discutida.
Alguém me ofereceu cerveja, que recusei polidamente aceitando, contudo refrigerante.
Sem que eu soubesse como, minha atenção foi desviada para um senhor, sentado à minha frente.
Aparentava ter idade entre 50 e 60 anos e trajava roupas humildes; detalhe: calçava botinas rústicas, usava chapéu de maça, cinza, com uma tira bordada em realce e tinha, sobre as pernas, uma camisa esbranquiçada, de mangas compridas. Talvez, pensei, para proteger-se do frio.
O dono da casa entregou-lhe um copo com cerveja, a qual ele bebeu avidamente, quase que de um só gole, e ficou com o copo, vazio, na mão.
Ele estava incomodamente calado, desde que eu chegara à reunião. Seus olhos perdiam-se no vazio, alheios à confusão reinante no local e seus ouvidos pareciam ignorar o barulho... mas o copo, vazio, permanecia firme em sua mão.
Observando-o esqueci de meus afazeres e aquele copo, vazio, em sua mão, começou a indignar-me, já que as outras pessoas, que estavam no local, receberam uma garrafa de cerveja, inteirinha, cada uma.
Aquele senhor recebera apenas um copo.
Inesperadamente seu mutismo foi quebrado, e indignei-me mais ainda, quando passou por ele um outro homem, ostentando uma garrafa de cerveja, cheinha, que ignorou seu copo, absurdamente vazio.
Aquele senhor, que até então permanecera calado e imóvel debaixo do seu chapéu de massa com uma tira bordada, e calçando suas botinas rústicas, estendeu o copo, vazio, para o homem que passava com a garrafa cheia de cerveja e falou:
- Ponha um pouco para mim...
O homem com a garrafa de cerveja resmungou algo e afastou-se, ligeiro.
Aquele copo continuou vazio, agora não mais firme, nas mãos daquele senhor envergonhado, retraído...
Mas eis que o dono da casa, acredito que presenciara o fato, trouxe-lhe uma garrafa, também cheinha de cerveja.
Seu rosto iluminou-se num sorriso infantil como uma criança que acaba de ganhar o presente que tanto queria, e ele voltou-se para mim e ofereceu-me a garrafa de cerveja, aquela cerveja que lhe custara tanto ganhar, e antes mesmo de encher o seu próprio copo.
Desconcertou-me. E eu fiquei observando-o saborear sua cerveja, vagarosamente, ao contrário do primeiro copo que bebera como se fosse água.
Ele bebeu toda a cerveja da garrafa, sob minha atenta observação.
Alheio a tudo e a todos aquele homem, humilde, devotou aquele seu tempo à cerveja que bebia.
Outra garrafa, cheia de cerveja, foi-lhe entregue e, nesse momento o dono da casa, que me servia refrigerante, sentou-se ao meu lado e puxou conversa, desviando minha atenção daquele homem de chapéu de massa, com uma tira bordada, e que calçava botinas rústicas.
Me envolvi na conversa com o dono da casa e, quando ergui os olhos aquele senhor não estava mais sentado à minha frente.
Um alarme disparou em minha mente e pus-me, inconscientemente a procura-lo no salão.
Encontrei-o. Ele estava sentado em uma mesa, dividindo sua garrafa de cerveja com aquele homem que antes lhe negara um copo. Um único copo de cerveja.
E ele estava sorrindo, alegremente descontraído.

Isso aconteceu, cidadão. E eu vi.
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