VARIAÇÕES DIANTE DA MESA
Délcio Vieira Salomon
A cenoura lembra ponto de exclamação !
Façamos dela o topos da admiração.
Contemplemos com olhos de corpo
não com os de alma, para lhe sentir o sabor
de seu formato e de sua inconfundível cor.
O alface, transubstanciemos em página de esperança
Juntamente com o verde do espinafre e do agrião.
Deixemos morrer em nós o passado.
Ressuscitemos a criança.
Que o tomate proporcione esquecer
O sangue por heróis derramado.
Vermelho só nas bandeiras pintado
a recordar batalhas vencidas
jamais repetidas, abrindo espaço à paz.
Ao partir a cebola,
abençoemos as lágrimas
a purificar o olhar.
Do alho aprendamos
a maneira de integralmente nos conservar.
Ao fervê-lo no azeite
valorizemos a virtude
de ser o rei no reino do temperar.
Da laranja que espremida
em cobiçado suco convertida
tiremos a lição do sacrifício
desde os antigos ensinada:
É nos apertos e na dor
que o caráter se acrisola
e a vaidade se imola.
A maçã, seja gala ou fuji,
sempre saborosa e suculenta
quando se mastiga lenta
para todos nós se tornará
símbolo da redenção.
Ao mordê-la, esqueçamos que um dia
foi de Eva a perdição.
Em fatias cortemos o abacaxi
para repartir seu doce prazer
quais taumaturgos da multiplicação
entre irmãos lá e aqui.
Se o amor merece símbolo,
que continue a rosa
rubra, branca ou mesmo rosa
no nome, na cor,
seja ao luar
como ao surgir e ao pôr do sol.
Para o banquete da Vida
convido a todos,
com bocas a salivar,
narinas abertas
ao sabor, cor, aroma
e ouvidos atentos
à etérea melodia do nascer
e do eterno renascer,
vamos todos
a Natureza prazerosamente comemorar!
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