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Contos-->O aperto de mão! -- 02/10/2009 - 17:33 (Antonio Accacio Talli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O aperto de mão
Antonio Accacio Talli

Três horas da manhã. Madrugada intensamente fria.

Uma gestante, minha cliente, é internada em franco trabalho de parto, bolsa rota e fortes dores.

Após o preparo pré-operatório, é encaminhada imediatamente para a sala de cirurgia, pois tinha duas cesáreas anteriores.

Nesse ínterim, conversei com o marido, um truculento sitiante, filho de pais oriundos da Romênia.

O romeno, vermelho e nervoso, tinha um litro de vodca na mão e bebia sofregamente. Ele chegou a me oferecer, mas frisou: “Só após a cirurgia, hein, doutor!”.

Cesareana rápida e tranqüila, sem complicações.

Saindo do centro cirúrgico, fui cumprimentar o pai, todo feliz pelo nascimento de mais um filho. Como eu já o conhecia, sabia que um aperto de mão seria um suicídio, porquanto o homem tinha uma mão de ferro, como se fosse uma garra, um espremedor ou uma prancha de amassar carros.

Eu nunca conheci um ser humano que apertasse com tanta violência uma simples mão num cumprimento amistoso. Dava vontade de chorar.

Eu, que não sou masoquista, somente o cumprimentava com tapinhas nas costas, evitando assim o massacrante aperto de mão.

Pensei, então, em preparar uma peça para o auxiliar e o anestesista, e coloquei o plano em execução. Apresentei o auxiliar ao romeno, que o cumprimentou. A reação foi imediata: palidez, perda de voz e a mão adormecida por muito tempo.

Depois de o romeno esvaziar o litro de vodca, surgiu o anestesista, alegre, risonho, mãos finas e delicadas, e aí eu o apresentei. Na hora do tão esperado aperto de mão, sem mentira nenhuma, ecoou um som seco, estridente e intermitente: craque, craque, craque, craque, craque (cinco vezes).

O rosto sofrido do indefeso anestesista, pego de surpresa, passou por várias nuances de cores: vermelho-choque, róseo, verde-amarelado e, finalmente, um branco pálido, cadavérico.

Quando o romeno soltou a mão do anestesista, esta parecia uma folha de papel amassado: imóvel, incolor e pendente, como se fosse um objeto sem vida.

As únicas palavras que ouvimos do anestesista após o aperto de mão, e já longe do romeno, foram: “Vocês...... escutaram...... o........ barulho?”.

Na manhã seguinte encontrei o anestesista com a mão e o antebraço direito engessados, depois de ter passado por radiografia e ortopedista. Na radiografia foram constatadas fraturas nas cinco falanges dos dedos da mão direita.

Na mão esquerda ele trazia um atestado de afastamento de suas atividades profissionais por 30 dias.


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