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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 68 -- 10/08/2015 - 17:23 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 68


ÍNDICE
Capítulo(01) Capítulo(02) Capítulo(03) Capítulo(04) Capítulo(05) Capítulo(06) Capítulo(07) Capítulo(08) Capítulo(09) Capítulo(10) Capítulo(11) Capítulo(12) Capítulo(13) Capítulo(14) Capítulo(15) Capítulo(16) Capítulo(17) Capítulo(18) Capítulo(19) Capítulo(20) Capítulo(21) Capítulo(22) Capítulo(23) Capítulo(24) Capítulo(25) Capítulo(26) Capítulo(27) Capítulo(28) Capítulo(29) Capítulo(30) Capítulo(31) Capítulo(32) Capítulo(33) Capítulo(34) Capítulo(35) Capítulo(36) Capítulo(37) Capítulo(38) Capítulo(39) Capítulo(40) Capítulo(41) Capítulo(42) Capítulo(43) Capítulo(44) Capítulo(45) Capítulo(46) Capítulo(47) Capítulo(48) Capítulo(49) Capítulo(50) Capítulo(51) Capítulo(52) Capítulo(53) Capítulo(54) Capítulo(55) Capítulo(56) Capítulo(57) Capítulo(58) Capítulo(59) Capítulo(60) Capítulo(61) Capítulo(62) Capítulo(63) Capítulo(64) Capítulo(65) Capítulo(66) Capítulo(67)


Antes porém achei por bem dar uma melhorada na pontaria. Sabia perfeitamente que ainda estava muito aquém do necessário para acertar uma ave a uma certa distância. De mais a mais, caso errasse, muito provavelmente não só a caça que eu pretendia acertar mas todas as outras provavelmente sairiam voando, o que me obrigaria a esperar uma outra oportunidade. Era assim que acontecia com os peixes e com as aves não seria diferente.
-- Primeiro, vou treinar um pouco ali, naquela árvore que andei treinado – falei.
-- Mas você acha que precisa? -- indagou ela com voz meiga.
-- É melhor. Assim, quando eu for acertar um desses aí, não vou errar
De fato, nas primeiras vezes, a flecha passou longe do alvo. Aos poucos porém fui adquirindo uma certa prática e melhorando a pontaria. Depois de quase uma hora eu já era capaz de acertar duas flechadas seguidas, o que me levou finalmente a dar o passo definitivo e mostrar para Luciana que eu era mais do que ela andara maldizendo. Aliás, durante todo esse tempo de treinamento ela permaneceu do meu lado, ora me incentivando ora me insistindo para que eu tivesse um pouco mais de paciência e procurasse mirar melhor, talvez para compensar a joelhada nos meus testículos de mais cedo. Embora não se tratasse de um remorso, uma vez que tal sentimento lhe era estranho.
Não sei quantas tentativas eu fiz, mas posso afirmar que foram muitas. E na maioria delas Luciana, sendo prestativa como nunca fora, apanhava a flecha e a trazia para mim. Vez ou outra ela se aproximava com a flecha na mão e, abraçando-me e me beijando no rosto, entregava-a dizendo: “vai, meu homenzinho, eu sei que você vai acertar de novo”. Por duas ou três vezes também chegou a dizer: “Isso! Fica bem prático. Quero ver você matar um desses bichos bem grandes pra sua mulherzinha.”, sempre usando a palavra “sua” de forma extremamente possessiva. Apenas quando eu passei a acertar a árvore com mais frequência, Luciana, com uma certa impaciência, chegou a indagar mais de uma vez se eu já não praticara o suficiente. Com o objetivo de contrariá-la, insisti na necessidade de treinar mais um pouco.
Quando eu lhe disse que já era o bastante, ela deu pulos de alegria. Abraçou-me e me ofereceu seus lábios, os quais não recusei para não contrariá-la e estragar aquele clima amistoso, embora é bom que se diga que eu não sentia a menor vontade em beijá-la.
-- Agora vou aproximar um pouco mais deles pra ficar mais fácil de acertar – falei, andando lentamente na direção de um bando de aves que pareciam se divertir na faixa de areia onde o mar terminava. -- Mas não venha atrás de mim. Fica aí. Senão você vai espantar elas.
Ela não disse nada. Também não olhei para ver se realmente ela tinha me obedecido. Só pouco depois, quando ao lançar a flecha e ela passar bem próxima de uma das aves, fazendo com que o bando levantasse voo, virei o rosto e vi que ela realmente tinha ficando para trás.
-- Quase acertei – falei, indo atrás da flecha.
-- Eu vi – ela disse, vindo em minha direção. -- daqui a pouco você tenta de novo.
Apanhei a flecha e voltei ao encontro dela, pois Marcela não tinha pressa em me alcançar.
Para me consolar e me incentivar, talvez não por mim mas pela necessidade de termos o que comer, pois não havia a certeza de que Marcela e Ana Paula acabariam encontrando alguma coisa, ela acabou abraçando-me e acrescentando:
-- Da próxima você vai conseguir. Eu sinto que vai. -- Essas palavras alias contradiziam o que dissera mais cedo ao afirmar que eu não seria capaz de caçar. Essa mudança de opinião deveria ter uma razão a qual me passou despercebido.
-- Espero – foi o que respondi, com um certo desânimo.
Um ou dois minutos depois um bando, com umas seis ou sete aves, voltou a pousar a poucos metros de onde estávamos. Eu estava de costas.
-- Olha lá – disse ela.
Virei e as vi.
-- Vou chegar bem perto. Aí vou mirar bem numa. Não posso errar dessa vez – falei.
-- Tenha calma – pediu, mais uma vez de forma doce, como fazem as mulheres ao seduzir.
Aproximei como um predador nato que, certo de que aquela é a única chance de não passar a noite com fone, espera o momento certo para dar o derradeiro e infalível bote.
Quando achei que estava próximo o bastante, levantei lentamente o arco, em movimentos quase imperceptíveis, e puxei a flecha. Esse processo deve ter levado uns dois minutos. Então mirei bem na ave mais próxima, uma espécie de gavião, quase do tamanho de frango, e fiquei esperando o melhor momento: quando ela estivesse de costas, pois assim lhe seria menor o tempo de reação.
A flecha penetrou-lhe acima da coxa. A ave tentou seguir as demais e voar mas sem sucesso; aliás, chegou a levantar voo, até um meio metro, antes de pousar novamente, debatendo-se.
E antes que eu reagisse, ouvi Luciana correr na direção dela dizendo:
-- Você acertou. Vou pegar ela.
Por mais duas vezes, antes que ela conseguisse segurá-la, a ave tentou voar e escapar. Mas como uma leoa, Luciana a agarrou e, segurando-a com as duas mãos, veio em minha direção.
-- Eu não disse que você ia conseguir – declarou. -- Vamos levar pra assar.
Concordei.
Antes porém, disse-lhe para segurá-la com força enquanto eu puxava a flecha.
-- Pesada ela. Vai dar pra gente encher a barriga – comentei.
-- Isso também não. Se não tivesse aquelas duas aí sim. Só quero ver se elas conseguiram encontrar alguma coisa. Fizemos nossa parte.
-- Devem ter encontrado. Mas será que elas já chegaram?
-- Sei lá. Vai ver que encontraram com um monstro e ele comeu elas. Seria até bom. Assim a gente se livra delas de uma vez. -- Luciana falava como se referisse a duas pessoas estranhas, abjetas e sem vínculo algum com ela.
Nisso, ocorreu-me imediatamente de recordar daqueles sons que eu tinha ouvido. Cheguei a ficar em desespero, temendo por Marcela e minha prima. Isso aliás, fez com que eu apressasse o passo a fim de chegar mais rápido à cabana.
Elas ainda não haviam chegado. Por alguns instantes, cheguei a pensar no pior. Lembro-me de dizer a mim mesmo, quase em pânico: “Foi aquela coisa. Ela pegou elas. Por isso elas estão demorando. Eu sabia que tinha alguma coisa. Mas ninguém quis me ouvir. Por isso não tem ninguém nessa ilha. Ela é amaldiçoada. Essa coisa. Ela pega todo mundo que vem pra cá. Meu deus! O que ela fez com elas?”, pensei até que fui interrompido.
-- O que cara é essa? Até parece que viu um fantasma? -- Perguntou Luciana.
-- É as meninas. Elas ainda não voltaram. Aquele barulho que eu vi outras vezes. Ele pode ter pegado elas.
-- Deixa de ser idiota, moleque! -- exclamou ela. -- Você ainda com isso na cabeça? Elas não chegaram porque não estão com pressa. Pressa pra quê? Não tem mais nada pra fazer nessa ilha? Se eu tivesse ido, também não ia ter a menor pressa de voltar. Ainda mais com aquela visão lá de cima.
-- Mas já está ficando tarde. Elas devem estar com fome – falei.
-- Fome? Se elas acharam o que comer, já devem ter enchido o rabo. Isso é bem a cara delas; principalmente da sua priminha. -- Luciana continuava sua implicância com Ana Paula. -- Não precisa ficar aí todo preocupado não. Daqui a pouco elas aparecem.
De fato eu comecei a ver que meus temores não tinham muito fundamento. Elas realmente não tinham razão para retornar tão rápido.
-- Vai ver que elas aproveitaram que estavam sozinhas e resolveram se deitar uma com a outra. Meninas as vezes gostam de fazer isso. Eu mesmo já fiz.
Súbito a imagem de Ana Paula e Marcelas abraçadas, beijando uma outra enquanto trocavam carícias, surgiu na minha mente. No entanto lembrei-me dos meus momentos com minha prima e até mesmo dela dizendo que Marcela gostava de mim. Então concluí que não fariam isso, pois se elas gostavam de homem não poderiam fazer aquelas coisas entre as duas.
Pensei em dizer-lhe que elas não seriam capaz disso, mas se o dissesse Luciana ia me inquirir como eu tinha tanta certeza. E desconfiada como era, acabaria me acusando de já ter deitado com ambas. E isso só acabaria despertando-lhe a ira. Assim. Acabei mudando de assunto, embora a imagem das duas continuasse nos meus pensamentos.
Nisso, Luciana deu alguns passos, aproximou-se de mim acrescentando:
-- A gente podia aproveitar e fazer como elas devem estar fazendo. -- Abraçou-me e procurando meus lábios, beijou-me. Durante o beijo, sua mão escorregou até o meio de minhas pernas e procurou meu encolhido falo, acariciando-o em seguida. Parando de me beijar e dando um passo para trás, chamou: -- vem cá, vamos aproveitar e fazer o mesmo.
-- Não estou com vontade – falei.
-- Mais eu estou morrendo. E você disse que ia fazer.
De fato eu prometera. Mas eu realmente não sentia o menor desejo.
-- Mas eu não vou conseguir fazer ele ficar duro.
-- Mas eu faço. Quer ver?
Então ela ajoelhou-se diante de mim, pegou-me o falo, empurrou o prepúcio para trás, fazendo despontar a pequena e rosada glande e envolveu-a com seus lábios. Súbito, senti-lhe a língua contorná-la como se fosse iniciada nos segredos do prazer.
Ainda cheguei a protestar, mas ela interrompendo-se por uns instantes, ordenou:
-- Fique quieto e sinta! Ele vai crescer rapidinho.
De fato comecei, contra a minha vontade, a ficar excitado logo em seguida. E como acontece com os garotos, ficou de pé e rígido em pucos segundos.
-- Tá vendo! Eu não disse que ele ia ficar. Você homens são muito fracos. Não aguentam nada. Não são como nós que se não quiser, não tem jeito que se dê. Agora vem cá – sentou-se e deitou para trás, abrindo as pernas – fazer amor com sua mulherzinha.
Impossibilitado de recusar. Deitei-lhe sobre e a penetrei. Ela me abraçou e procurou meus lábios. Sentindo-lhe um gosto estranho e meio acre na boca, abandonei-a e procurei-lhe os seios. Com meus movimentos, ela passou a gemer como uma puta que, para agradar o cliente e justificar a paga, finge sentir muito prazer.
Súbito no entanto, ouvi vozes ao longe. Ana Paula e Marcela retornavam.
Minha primeira reação foi levantar. Luciana, olhando-me surpresa, indagou:
-- O que foi?
-- As meninas estão vindo aí – respondi, já de pé.
-- Merda! Essas pirralhas tinha que chegar agora! -- exclamou, sentando-se. -- Não pense que vou ficar assim até amanhã. Mais tarde você vai terminar isso – disse em tom de ameaça.
Assenti. E procurando dar uma aparência de naturalidade, aproximei da ave morta e perguntei:
-- Como é que a gente vai assar esse bicho todo cheio de penas? -- perguntei.
-- Sei lá. Acho que tem que arrancar as penas dele primeiro – respondeu. Ao fitá-la, vi-lhe a mão no meio das pernas ainda arreganhadas, acariciando-lhe o sexo. -- Merda! Tô com tanta vontade de gozar – acrescentou, como se deixasse escapar um pensamento.
Ignorei, embora não deixasse de pensar: “Ela tá possuída. O Diabo faz ela dizer essas coisas. Ele roubou a alma dela, levou ela pro mau. Agora que fazer isso comigo”. Contudo, procurei afastar esses pensamentos.
-- E como a gente vai faz isso?
-- Ah. Não sei. Vamos esperar a sua queridinha voltar. Ela não é a sabe tudo? Então? Ela deve saber – disse Luciana, fitando-me com olhos faiscantes, como se houvesse deixado se levar pela própria provocação. Ou talvez estivesse apenas frustrada por mais um fracasso.
Calei por alguns instantes. Nesse ínterim, procurei me lembrar se já não teria visto em algum lugar como se fazia para limpar uma ave como aquela. Nisso, ocorreu-me de simplesmente tentar puxar-lhe a penugem. Então peguei a ave e, segurando-a firmemente, agarrei um maço de penas e puxei-as. De fato, algumas vieram na minha mão, mas a maioria simplesmente não se soltou. “Não. Não deve ser assim. Deve ter outro jeito. O melhor é esperar elas chegar pra gente ver como faz. Já tão chegando”, pensei.
De fato, pouco depois avistei-as do lado de fora da cabana.
Levantei rapidamente, como quem se prepara para correr ao encontro da pessoa amada após um longo período de separação. No entanto, não tive coragem de correr ao encontro das duas. Se o fizesse, certamente despertaria a ira de Luciana, assim procurei conter a ansiedade. E o que eu menos queria naquele momento era um novo ataque de raiva. Nisso, lembrei do falo teso. Desta feita, agachei sobre o calcanhar, cobrindo-o com braço para que elas não o vissem naquele estado. E torci para o retorno imediato dele ao estado normal.
E assim que entraram, com o intuito de desviar-lhes a atenção, fui dizendo:
-- Olha o que eu matei – apontei para a ave no chão, ao lado da fogueira.
-- Como ocê conseguiu? -- perguntou minha prima.
-- Eu dei uma flechada nela – respondi, estendendo o outro braço, pegando aquele pássaro grande pelas pernas e levantando-a no ar.
-- Então você teve mais sorte do que nós – disse Marcela. -- Só encontramos isso aqui, mais oito dessas frutinhas amarelas. Procuramos para ver se encontrávamos ovos, mas não achamos nenhum. Achamos uns limões mas ainda estão verdes. Ah, encontramos uma moita de bambum também.
-- Na realidade fui eu que peguei ela – disse Luciana. -- O Sílvio acertou a flecha nela, mas ela tentou voar. Mas antes que ela pudesse escapar, corri e peguei ela. Não foi, Sílvio? -- Embora ela não tenha distorcido os fatos, a maneira como falou, levou as outras duas a acreditar que se ela não tivesse sido esperta a ave teria fugido.
-- Bambum? E pra que serve? -- perguntei. -- Dá pra comer?
-- Não. Mas dá pra gente fazer um monte de coisa. Por exemplo, parede na cabana.
Fazendo pouco caso daquela descoberta, falei:
-- Eu só quero saber como a gente vai fazer para tirar as penas dela. Você sabe como, Marcela?
-- Quando eu fui visitar minha avó que mora lá no sítio, ela matou um frango e tirou as penas dele enfiando ele na água quente primeiro. Lembro que a gente estava sentada na mesa da cozinha, conversando com ela, enquanto ela limpava o frango. Depois de limpo ela abriu ele com um faca e tirou as entranhas dele. As tripas ela jogou fora, mas o resto não – explicou.
-- Mas onde a gente vai arrumar água quente?
-- Não dá. – Marcela foi categórica. -- O que a gente pode fazer é molhar ela e aumentar o fogo e deixar ela um pouquinho nele pra esquentar. Aí a gente tenta arrancar as penas dela. Acho que assim pode dar certo – tornou a explicar. -- A não ser que alguém tem uma ideia melhor.
Olhamos uns para os outros por alguns instantes. Mas ninguém disse nada.
-- Alguém faz esse fogo ficar maior que eu vou lá molhar ele. Me dá a casca do coco que eu vou trazer um puco de água nela – falei.
Antes de tirar o braço e me levantar, pus a ave na frente. E agindo com destreza, saí rapidamente da cabana.
Quando retornei, a fogueira estava maior. Não cheguei a mergulhá-la nas chamas, apenas mantive-a pendurada pelos pés. E quando o calor começou a provocar uma quentura insuportável, troquei de mão.
-- Acho que já está bom – falei depois de uns dois minutos.
Marcela pegou-a de minha mãe e começou a arrancar-lhe as penas. Ou ela sabia fazer com mais jeito ou o calor realmente tornava o processo bem mais fácil. Seja qual for, não tardou para que restassem poucas, apenas uma ou outra penugem. O chão e as pernas dela estavam cheia das penas arrancas. Mas ela parecia não se importar com isso. E enquanto limpava a ave, vez ou outra dizia que a avó fazia isso, fazia aquilo, como se ela tivesse realmente absorvido tudo aquilo que via a mãe de sua mãe fazer.
Nós permanecemos calados na maior parte do tempo, apenas assistindo-a depenar a ave. Vez ou outro eu olhava para Luciana a fim de ver se ela também prestava atenção em Marcela ou se procurava me vigiar, uma vez que Marcela agachada praticamente na minha frente favorecia a minha visão, permitindo-me apreciar não só o belo traseiro como os seios e as coxas. Mas, na maioria delas, ela estava atenta ao depenar da ave. Somente em duas oportunidades nossos olhares se encontraram. Mesmo assim não vi nela um tom ameaçador, traço presente em todo aquele envenenado pelo ciume.
-- Pronto! -- disse Marcela algum tempo depois. -- Fiz a minha parte. Agora abrir ele eu não vou não. Não tenho coragem.
-- Nem eu – adiantou-se Ana Paula.
-- Muito menos eu – disse Luciana em seguida.
Não tive como recusar. Embora eu nunca tenha feito aquilo, a ideia de cortar um animal e abri-lo me provocava uma certa repulsa. Mas se eu não fizesse, provavelmente Marcela teria de fazer. E de mais a mais ela me veria como um fraco, como um garotinho sem coragem. Se eu queria mostrar para ela que era mais adulto do que ela supunha, teria de enfrentar esse desafio.
Assim peguei a lasca de pedra, a qual usávamos como faca e falei:
-- Vou fazer isso lá na pedra. Não vou sujar a cabana com essa nojeira.
Confesso ter encontrado dificuldades em abrir o peito daquela ave; e mais ainda para enfiar-lhe a mão e arrancar as entranhas. Por três ou quatro vezes, tomado pela ânsia de vômito, tive de parar e virar a cara para o lado, para não ver minha mão enfiada naquela ave. Embora estivesse só, a expressão de nojo estampada na minha face deixava bem claro o tamanho da minha repulsa. Na verdade, estava praticando ali o ato mais repulsivo da minha vida. Dir-se-ia estar introduzindo a mão num recipiente cheio de vermes ou baratas.
Não consegui arrancar tudo de uma vez. Ainda sim fiz questão de atirá-la no meio da mata, o mais longe possível. E como se quisesse me afastar o mais rápido possível daquele lugar, como se também ele tivesse ficado repulsivo, sai correndo com a carcaça da ave na mão e retornei à cabana.
Marcela e Ana Paula estava na água. Luciana por sua vez catava as penas espalhadas pelo interior da cabana e as atirava na fogueira.
-- Pronto! Tá aí – falei. -- Só não me pede para fazer mais nada – acrescentei.
Luciana ergueu a cabeça e fitou-a.
-- Tirou tudo? -- perguntou.
-- Claro. Não era pra tirar?
-- Lavou ela?
-- Não.
-- Então vai lá e lava, seu idiota! Antes de por no fogo tem que lavar – disse ela com certa indignação, como se eu fosse obrigado a saber que tinha de lavá-la depois de limpa.
Ao sair, deparei com as duas voltando.
-- Onde você vai? -- perguntou Ana Paula.
-- Vou lavar – respondi. -- Luciana disse que eu tinha que ter lavado ela depois de tirar aquelas coisas dela.
-- E tem mesmo – declarou Marcela. -- Mas lava na água do mar porque assim ela fica com um pouco de sal.
Elas entraram e eu corri até a beira d`água. Mergulhei a carcaça umas três vezes no mar, como num ritual, e retornei.
-- Agora como a gente vai assar isso? Fazer que nem a gente fez com os peixes? -- perguntei.
Mais uma vez Marcela nos socorreu.
-- Usa a flecha. Finca ela até atravessar ela. Vai ficar com um churrasco espetado. Aí é só enfiar no fogo e ir virando. Já que você consegue caçar, a gente poderia fazer um suporte de cada lado da fogueira para pôr o espeto e assar como se assa um churrasco. Vocês nunca viram na televisão como eles fazem na roça?
-- Eu não lembro – respondi.
-- Nem eu – volvei minha prima.
-- Acho que já, mas nem me lembrava disso – disse Luciana. -- Mas você tem razão. É só arrumar duas pedras altas ou empilhar elas.
-- Depois a gente pode fazer isso mesmo – falei.
Para ficar bem cozida, seria preciso pelo menos uma meia hora. Mas olhar para aquela ave no fogo, soltando aquele cheiro de carne, foi demais para nós. Confesso que em dado momento minha boca salivava e meu estômago doía de fome. E o mesmo se passava com as outras três, embora eu não possa afirmar que fosse na mesma intensidade. Ana Paula foi a primeira a dizer que a carne já estava bom; em seguida Marcela. Ainda sim resolvi deixá-la assar um pouco mais.
E quando eu afirmei não aguentar esperar mais, houve um instante de intensa alegria. Contudo, ainda tivemos de esperar até a carne esfriar um pouco antes que cada um de nós arrancasse um pedaço e o devorasse como se não se alimentasse há dias.
-- Bem que você poderia tentar pegar mais um – disse Ana Paula.
-- Hoje não dá mais. Já está escurecendo. Mas amanhã cedo vou fazer isso. Vou tentar matar pelo menos mais umas duas – falei.
De fato o sol começava a se esconder e uma sombra rubra cobria o horizonte.


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