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Artigos-->POESIA HOJE E SEMPRE -- 02/01/2003 - 01:21 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POESIA HOJE E SEMPRE



“O poema se faz com palavras, como disse Mallarmée, mas somente no discurso da poesia.”



Francisco Miguel de Moura *



Observo os poetas: Eles têm um tipo de discurso que não muda muito desde o primeiro aos últimos escritos. Mesmo os concretistas. Discurso ou estilo, o que vem a dar na mesma significação ao fenômeno.

Dentro dos meus conhecimentos de Licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí, já há alguns anos, ao que juntei um curso de pós-graduação em Crítica de Arte, na Universidade Federal da Bahia, quando morava em Salvador, tento aqui uma classificação para o discurso da poesia. Discurso ou estilo, no sentido de estilo de vida, de sentir, de ser, nunca naquele em que Ezra Pound diz, falando dos que traem o ser e a vida para imitar ou copiar os livros já escritos: “Nunca se escreveu poesia de boa qualidade usando um estilo de vinte anos atrás, pois escrever dessa maneira revela terminantemente que o escritor pensa a partir de livros, convenções ou clichês, e não a partir da vida.”

Os discursos da poesia são resumidamente:

1 – O discurso natural da prosa com as modificações que o abrandam, na lírica pelas imagens mentais possíveis (aqui a criatividade), pela sonoridade e pelo ritmo escolhido (ou os ritmos, para dar variedade).. Exemplos: Álvaro Pacheco, especialmente no último livro; Paulo Machado, sempre; H. Dobal à vezes (e Paulo Machado tenta imitá-lo, ou o imita inconscientemente – quem não imita alguém?); Rubervam du Nascimento e muitos outros, em todas as gerações;

2 – O discurso dos professores de Teoria Literária, no qual se sente a forma se sobrepondo ao todo do texto (no caso, desnaturalizando a poesia, cujo trabalho deve ser sutil como diria Olavo Bilac). É um discurso que não terá sustentação por muito tempo e a tendência é a repetição dos temas e da imagética. Daria o exemplo, no Brasil, de Manoel de Barros porque o mais conhecido, e, no Piauí, de Dílson Lages e mais alguns, sobretudo da nova geração, quase todos com prêmio de publicação da Fundação Monsenhor Chaves;

3 – O discurso antidiscurso da tropicália, mas sobretudo o do concretismo e o da práxis, dos irmãos Augusto de Campos e Haroldo de Campos, do Foed Castro Chamma, da Hilda Hilst, no Brasil; e, no Piauí, do Élio Ferreira, do Chico Castro, do Jamerson Lemos.

Os verdadeiros poetas são fundadores de palavras, de imagens, de discurso próprio. Uns menos, outros mais. E nem sempre é só por aí que os podemos julgar. Penso nos poetas clássicos. Também seria impossível catalogá-los a todos. Cada poeta moderno (e não somente o modernista) funda sua poética. Assim como há os que têm o discurso diversificado – variado, colorido, cinza, liso, reto, anfractuoso – existem também os que se apresentam aparentemente sem novidade.

Falemos do clássico. Na verdade, o discurso clássico, justo por ser clássico, medido e pesado, seco e sólido, é o que tende a ser entendido e consumido pela maioria dos leitores. Mas, o que é ser clássico? É ser vazado na melhor forma da língua e com as imagens usadas, sem abuso, pelos antecessores, deixando transparecer a naturalidade que os novos não possuem, muito menos os chamados vanguardistas – os ousados que tentam inaugurar uma nova poética, ou seja, um novo discurso.

Falei dos outros. Preciso agora falar de mim. Procuro incorporar todos os discursos sem ser um clássico. Sou pós-moderno, assim me considero. E o pós-moderno é a incorporação das conquistas do romantismo, do realismo e do modernismo. Um esforço a mais para que não desperdicemos nada, sejamos continuadores do passado sem repeti-lo propriamente, uma vela que passa às gerações do pós-tudismo todo o fogo e a paixão da arte. Poderemos virar novamente neo-românticos, neomodernos ou mesmo neo-realistas. Quem sabe da roda do tempo? Os escritores de hoje têm que pensar no sempre, que escrevem hoje mas para o amanhã. Será que serei um escritor lido no futuro? Eis o enigma.

Por outro lado, não pensem os poetas aqui nomeados que só por isto os elogio, ou que os estou criticando. Não se trata disto. É menção de algum traço comum do seu fazer poético, no caso o estilo, a forma do discurso. É só para que o leitor possa aquilatar da validade de minha classificação.

Por fim, quero homenagear um poeta silencioso, humilde, operoso, humano, que está entre os que trabalham a palavra e o discurso a um só tempo – Edson Guedes de Morais – repetindo sentencioso poema seu, mas nem por isto menos poético, a mim enviado como cartão de Natal: “Porque um cais é para mim / sempre o lugar de onde os navios partem, / sempre um lenço e um nascer de saudade, / é preciso inventar uma palavra nova / ou descobrir o lugar / aonde os navios voltem.”

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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da APL e do Conselho de Cultura.

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