- Never more, Tocha, never more encoste seus lábios frios em minha boca quente. – Dizia isso e meneava os cabelos com poses casuais.
Tocha, ressentido, aprumava o corpo e chispava dentro da noite. Acabava a vontade de derrapar nas curvas da pilantra. Morena estúpida que só sabia magoar os outros.
Ela tontinha, cheia de nove horas ainda outro dia, agora gemia em inglês. Boba, doida! Em inglês vejam só! Queria era humilhar o matuto do Tocha, colocar o zonzo debaixo das solas, coisa que ele deixava.
Pois ela que ficasse lá com suas perninhas nem tão assim do prazer. A pena é que ela podia ser a mulher ideal, podia mesmo. Para ela Tocha daria até o vestido de noiva, mas qual o quê? A moça não merecia. Quando vinha a quase certeza de pedir a mão e passar por todas aquelas bobagens que gente mais elegante gosta de achar bom, a Morena armava alguma. Desaforada.
Ela dizia que Tocha era fraco de estudo. Era mesmo, nunca chegou a ser bem alfabetizado, mas e daí? O amor não conta nada? O queimor dentro do peito, forte de derreter ferro, não conta? Quem vai gostar dela desse jeito? Algum arrumadinho desses de banco de faculdade? Eles são afrescalhados, quase mais perfumados que as moças, isso sim. Se a Morena trocasse o Tocha por outro é porque era burra. Uma burra morta porque o ciúme do Tocha deixava os pensamentos dele transtornados. Se ela não servia para casar com ele, também não servia para casar com mais ninguém.
Mas a Morena sabia conduzir as ideias rasinhas do Tocha. Ela fervia onde tinha de ferver e gelava depois na hora certa. Esperta, ela mantinha o cabra preso pela promessa de só pertencer a ele, mas santa não era, viu? Não era mesmo.
Mal o Tocha desaparecia na esquina, bronqueado, bravo, ela sumia pelo outro lado. Ia dançar e treinar o inglês com gente perfumada. Engraçado que o Tocha tinha mesmo razão sobre o cheirinho bom dos garotos bonitos. Cheirosinhos eles, bem do jeito que o Tocha falava. E aí havia a barreira, a Morena só dançava muito, mas dormir com os garotos nem pensar. Morria de medo de frustração. Já pensou se na hora o moço transborda, vira fada e ela, Morena, com que cara ia ficar? Ah, é coisinha? Comigo não, o Tocha é rocha, não transborda essa coisa de delicadeza exagerada não, viu, meu bem?
Aí era assim. O Tocha saía de cena, mas estava mais presente do que nunca nos bailes e nas noitadas. Era ver...
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