Meu amor,
Eu poderia começar dizendo que te amo. Poderia também, anunciar aos quatro cantos, colocar outdoor nas praças e avenidas, estampar nas capas das revistas mais vendidas, nas chamadas de jornais, nos programas de rádio e televisão.
Poderia te parar na esquina, ou em qualquer outro lugar, e gritar bem alto pra todo mundo ouvir, ou simplesmente te raptar, telefonar, mandar mensagem naqueles carros bem cafonas, mandar recados por parentes, vizinhos ou quaisquer desconhecidos, escrever um email, bater um tambor, enviar um sinal de fumaça, ou sei lá quantas outras coisas mais, pra ter certeza que entendeu o tamanho do meu amor.
São apenas alguns meios de comunicação que qualquer um utilizaria pra dizer alguma coisa a alguém, mas sei que nada disso é maior do que meus olhos podem comunicar. E mesmo que minha boca cale, mesmo que não tome nenhuma das atitudes acima, meus olhos continuam a falar,
e mesmo que os seus não queiram entender, me leem
atentamente, numa fração de segundos, num piscar de olhos, e são capazes de decifrar a lágrima teimosa no canto dos olhos, que a respiração profunda e a ponta da língua no céu da boca tenta em vão suspender.
Sei que nem sempre os amores são recíprocos, que não tem o mesmo valor e medida. Sei que as vezes o mundo conspira, e por fração de segundos horas, dias, meses ou anos, chegamos antes ou depois, e o que é, quase sempre não deixa de ser, então, resta apenas a impotência, e o enorme esforço de aprender a sentir sozinha, a mumificar o sentimento, e deixa-lo no ar, perambulando pelos limites do corpo e do coração.
Não, não é bobagem, não é um sentimento tolo, não é algo sem valor, não é tão errado que mereça punição. Não é algo tão absurdo, não é mesmo!
É algo bonito, e firme, e honesto, e respeitoso, a ponto de partir, a ponto de deixar, a ponto de não mais insistir, e de certa forma extremamente envergonhado por sentir.
Essa é a simples verdade do meu amor.
E o que eu mais desejo, é algo que não tenho o direito de desejar.
Sinceramente,
Valentina Fraga |