Golpe em Nossa Senhora
Antonio Accacio Talli
Eu e um colega, grande amigo e atualmente um famoso pediatra, moramos durante um ano em uma pensão na cidade de São Paulo, onde freqüentamos um cursinho que nos prepararia para o Vestibular de Medicina.
Aos sábados e domingos, principalmente à noite, costumávamos ir a cinemas, festas etc.
Num sábado, ao sair, visualizamos uma igreja ao longe, toda iluminada e espocando no ar belos fogos de artifício. Resolvemos, então, ir até lá e ficamos sabendo que ali se rea-lizava uma quermesse em prol de sua reforma e que quem colocasse a quantia de R$ 5,00 (na época, era outra moeda) e um pedido dentro de um envelope e o depositasse em uma urna, aos pés da imagem de Nossa Senhora, receberia todas as graças possíveis. Pegamos o envelope e começamos a escrever o pedido, quando o colega “Tio Patinhas” olhou para mim e me fez uma proposta:
“Já que o nosso desejo é o mesmo, ser aprovado no Vestibular, vamos usar um único envelope e dentro colocaremos o pedido com os nossos nomes e apenas R$ 5,00. Vamos economizar R$ 2,50 cada um; é uma boa, o que você acha?”.
No início, pensei em não aceitar aquela proposta indecorosa, ou melhor, o “golpe” em Nossa Senhora, mas, numa dureza desgraçada, topei, após longos segundos em dúvida.
Como castigo, apenas um de nós passou no Vestibular e o outro só conseguiu entrar na faculdade no ano seguinte, isso com a complacência de Nossa Senhora que, bondosa, a essas alturas já se esquecera do famoso golpe...
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