– Moço, me dê um trocado! Minha mãe está bem ali (e mostrou o local com o dedo indicador). Precisa de dinheiro para comprar pão.
Tirei do bolso uma moeda.
Disse-me o garoto:
– Eu tenho seis irmãos. Meu pai é um inválido; minha irmã mais velha é quem cuida dele. Eu, meus irmãos e minha mãe não sabemos ler nem escrever, e meu pai só sabia assinar o nome. Nós não tivemos oportunidade de freqüentar a escola porque, desde os cinco anos, o nosso trabalho era ir às ruas, pedir esmola para não sucumbir de fome. Minha irmã menor foi trabalhar em uma casa de família e, além de ter sido maltratada pela dona da casa, foi violentada pelo patrão. Ninguém ligou, ninguém fez caso, e ela ficou traumatizada; tem medo de tudo o que é homem.
Para a sociedade, não passamos de uns parasitos repugnantes que deveriam ser eliminados do seu meio. Se alguém nos desse a mão, sem explorar a nossa miserabilidade, a nossa pobreza, o senhor acha que ficaríamos nas ruas a mendigar? Sentir-me-ia mais feliz, se tivesse condições de estudar, trabalhar e ganhar um salário justo, sem precisar aborrecê-los com nossos lamentos. Mas, enquanto isso não acontecer, prosseguiremos importunando essa dita sociedade com nossos lamentos, sugando aquilo que pode sobrar de vocês.
Naquele momento, refleti sobre os comentários que se faziam a respeito dos meninos de rua. Os pais ou parentes os incumbiam de pedir dinheiro aos viandantes, enquanto, à distância, monitoravam-nos, aguardando o seu retorno para aquinhoar o apurado que correspondia a um bom salário mensal. Só que, o guri sempre levava a pior. Essas pessoas viviam, desse modo, a vagabundar e manipular a vida dos menores em proveito próprio.
O menino falou uma linguagem diferente. Isso arranhou a minha sensibilidade.
|