Tinha acabado de jantar quando um senhor alto e magro, aparentando uns quarenta e cinco anos, chegou perto dele e lhe falou:
– Você é viúvo e está aqui para espairecer e esquecer a tragédia.
– Viúvo? a palavra “viúvo” chocou a sensibilidade de Samuel.
– Sei que sua esposa faleceu de uma parada cardíaca há pouco tempo. Você teima em admitir que ela apenas mudou de aparência, e que o espera para recomeçar uma nova vida em conjunto, não é verdade?
– Como você sabe disso?
– Eu sei tudo o que acontece com as pessoas. Basta olhar para o seu rosto, leio toda a sua história, como se estivesse exposta num livro aberto com letras bem legíveis. No seu caso, particularmente, não diviso bem o que lhe ocorrerá, caso persista em seguir as diretrizes do seu coração.
– Você não entende nada da vida dos outros.
– Verdadeiramente, não entendo; mas, sei o que se passa com você. Poder-lhe-ia ser útil, ajudando-o a alcançar seu objetivo.
– Nessa hipótese, como poderia me ajudar?
– Primeiramente, você terá de estudar a vida das sereias para conhecê-las melhor.
– Mas, minha Sereia me conhece, e eu conheço minha Sereia.
– Sua Sereia está tão confusa quanto você. Qualquer coisa poderá desviá-los do caminho. As possibilidades de sucesso são bem maiores quando se conhece o terreno que se deseja explorar. A estratégia do ataque aniquila o medo e agiliza a ação.
– Encontrá-la-ei. Tenho plena certeza disso.
– Eu sei que não recuará. Aceita a minha ajuda?
– Meu tempo é curto. Saberei me guiar sozinho.
– Você precisa conhecer o canto da sua Sereia. Não se deixe induzir pelo primeiro canto que escutar. Só se tiver certeza, deverá seguir em sua direção.
(Extraído do livro ALUCINAÇÃO, de minha autoria)