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Humor-->O Menino Desdentado de Dez Anos -- 01/07/2004 - 11:41 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

PARABÉNS PELO SEU ANIVERSÁRIO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

O Plano Real completa, hoje, primeiro de julho de 2004, dez anos d vida. Certamente haverá comemorações; e muitas lamentações. De um lado, a festa de arromba será patrocinada pelos banqueiros, os maiores beneficiados com o plano. Apenas o Itaú, Bradesco, Banespa e Unibanco, segundo o Jornal do Brasil, “somaram lucros de R$51,3 bilhões no período”.

Já as lamentações ficarão por conta da grande maioria da população, que tanto sacrifício fez para que o menino crescesse forte e saudável. Infelizmente, o resultado não foi dos melhores.

O menino de dez anos, tem cara de trinta; desdentado, magro e desnutrido; pior, desiludido com o seu futuro. Ainda não terminou a segunda série escolar. Mal sabe assinar o nome. Tem pouco tempo para estudar. Precisa dedicar-se mais ao trabalho, a fim de ajudar seus pais, analfabetos e desempregados. Para completar, as escolas das rede pública, quando disponibilizam vagas para todas as crianças, não se fazem acompanhar, tais medidas, de uma oferta de ensino de qualidade, capaz de melhorar a renda dos trabalhadores, jovens ou adultos.

A bem da verdade, a culpa não é, necessariamente, do aniversariante. O Plano Real começou a ser esboçado em 1983, na PUC do Rio de Janeiro, por um grupo de acadêmicos liderados pelos economistas André Lara Resende, Pérsio Árida e Edmar Bacha. O mesmo grupo que fez parte do Plano Cruzado, durante o governo de José Sarney.

O plano só foi implantado no governo de Itamar Franco, quando o ex-presidente Fernando Henrique ocupava o Ministério da Fazenda. Seu objetivo era o de criar uma unidade de referência, a URV, desvinculando o preço dos produtos da cruzeiro real, a moeda da época, que deixava de ser referência nas transações financeiras.

A URV seria a nova referência, com valor igual a um dólar. Foi assim durante quatro meses. Até que, em primeiro de julho de 1994, cada URV passou a valer R$1 real. Nascia, então, o Plano Real.

Mas esse jogo de sedução, empatado em um a um, entre o real e o dólar, demorou mais do que o tempo devido. E não se fez acompanhar de um gerenciamento mais eficiente. Esqueceram-se, os economistas de plantão, de que o mercado externo é dinâmico e bastante mutável. E fomos pegos com as calças na mão.

A história do plano todos sabemos. Poucos resultados positivos, comparativamente aos sacrifícios impostos à população. A despeito da relativa estabilidade econômica, os resultados, como um todo, decepcionaram. Após doze planos fracassados, o país conseguiu, é bem verdade, conter o ímpeto inflacionário, é bem verdade; ímpeto que, em 1993, chegou a 2.477,15% (IPCA) conforme noticiam os jornais. Em 2003, este índice fechava em 9,3% e, tudo indica, para 2004 a previsão é de uma inflação em torno de 6,5% ao ano.

De outra parte, o remédio apresentou muito efeitos colaterais. Um deles, sabidamente, foi a política restritiva (monetária e fiscal) adotada pelo governo, na tentativa de manter os preços estabilizados. Decorreu disso a brusca queda nos investimentos públicos, fato que travou o crescimento econômico.

A partir de então, vieram outros maus resultados: o desemprego, a queda de renda dos trabalhadores e a política de juros altos, que culminaram com elevação da dívida líquida do setor público, que saltou de R$108,8 bilhões, em 1994, para R$ para 926,4 bilhões, nos dias de hoje.

O PIB, de igual modo, apresentou resultado negativo em 2003, registrando queda de 0,2%. A balança comercial, também, no período compreendido entre 1995 e 2000, apresentou saldos negativos.

Alguns economistas atribuem os fracassos do Plano Real à teimosia do presidente FHC em manter, durante muito tempo, o real atrelado ao dólar. “A âncora cambial colocou o País em situação crítica, muito vulnerável, principalmente internamente”, comentou o economista Luiz Eduardo Parreira, em reportagem realizada pelo Correio Braziliense.

Faltou, no meu modo de ver, bons administradores. Sobraram economistas e sociólogos sonhadores. Não demorou muito para, no segundo tempo, o dólar virar a partida. E começou a goleada prevista.

Não poderia ser de outro jeito. Qualquer que fosse o plano, sem gerenciamento eficaz, não se chega a lugar algum. Não se cura um infarto valendo-se, apenas, de remédios caseiros, retirados da cesta da produtos da homeopatia. Nem se pode resolver tudo pelas escolas da economia. Muito menos da sociologia. O jogo não poderia ficar tanto tempo empatado. Perdeu-se a noção do tempo ótimo. Tal como no jogo de vôlei: quando o adversário ataca, se não agirmos na defesa em tempo certo, perde-se o bloqueio; e o ponto vai para o adversário. E assim, de ponto em ponto, acaba-se perdendo a partida que parecia vencida.

De qualquer modo, parabéns, com reservas, ao Plano Real. E parabéns, sem reservas, e com louvor, ao Santo André. Que soube aproveitar os dois tempos disponíveis, em pleno Maracanã, para derrotar os planos do Flamengo e conquistar, pela primeira vez, a Copa do Brasil. Tudo é possível, quando se trabalha com garra, determinação e honestidade de propósitos.

01 de julho de 2004




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