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Contos-->VOAR - UM SONHO ESQUISITO -- 03/06/2009 - 17:20 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De repente, sentiu que seu corpo tornava-se leve e começou a flutuar. Lá de cima, enxergava as viaturas como se fossem carrinhos de brinquedo deslizando pelas ruas semelhantes a linhas alvacentas distribuídas em ziguezague. Voou mais alto e logo adiante vislumbrou um cenário incomum, que atiçou o seu desejo de descer, resolvido a admirar a estranha região que sobrevoava. Um ancião cochilava, sentado num recanto. Surpreso com a presença de um intruso que fora capaz de penetrar naquela cidadela, o velhinho questionou:
– Como conseguiu entrar aqui?... Esta aldeia é toda murada, os portões estão fechados a cadeado, e sustentados por espessas barras de ferro, além do mais ninguém pode ingressar sem prévia autorização.
Samuel falou, apontando para o alto:
– Eu vim lá de cima, e caí exatamente neste local.
– Você entrou como um ladrão, não se fez anunciar nem esperou que lhe fosse dada autorização para tal. Não poderá sair por vias normais, nem ficará impune. Para obter clemência, deverá purificar-se nas águas da Fonte Sagrada, ou será conduzido pelos demônios para o vale do castigo eterno.
– Irei à Fonte Sagrada, e lá me purificarei. Por favor, ensine-me o caminho, rogou Samuel.
– Siga a direção do poente, disse o velho enquanto se erguia, sinalizando fim de conversa.
Tudo era formidável naquele sítio: os riachos com suas águas cristalinas, o verde constante das árvores sempre carregadas de frutos, o eterno sorriso de felicidade estampado no semblante de cada um, a paz que se fazia presente em todos os recantos do lugar.
Samuel andou durante toda a manhã, e já sentia sinais de fadiga. Tentou flutuar, e não conseguiu. Adiante, quatro robustos lavradores colhiam os frutos de suas hortas, quando Samuel aproximou-se. Um dos integrantes do grupo indagou:
– Quem é o senhor?... Nós não podemos manter contatos com estrangeiros impuros.
Samuel respondeu:
– Eu procuro a Fonte Sagrada. Estou cansado, faminto e...
– O alimento aqui é abundante, mas não podemos satisfazê-lo sob pena de sermos castigados, replicou o homem, prosseguindo sua tarefa.
– Por favor, me diga que lugar é este... Onde estou?
– Vá em frente... Teremos muito tempo para conversar.

Mais adiante, uma jovem encantadora colhia flores enquanto cantava uma bela canção. Sua voz era suave, e o seu rosto expressava a candura daquelas flores. Atemorizada diante do desconhecido, acelerou os passos em retirada.
– Por favor, espere!... Peço-lhe apenas que me indique o caminho da Fonte Sagrada, bradou ele.
– Quem é você?
– Meu nome é Samuel... Venho de um lugar muito distante, estou perdido nesta região... E você?
– Lana... Como conseguiu entrar aqui? – o ancião também fizera a mesma pergunta.
– Vim lá do alto, respondeu apontando para cima.
Ela virou o rosto para o alto, depois para Samuel.
– É verdade! Eu consegui voar!... Mas, que lugar é este, Lana?
– Se você tivesse vindo por vias normais, autorizado pela guarda, obviamente, deveria ter conhecimento de tudo sobre este lugar. Um dos nossos guias ter-lhe-ia dado todas as informações necessárias, independentemente do fato de nunca havermos esbarrado com estranhos nesta região. É impossível alguém voar! No seu mundo, os homens voam?
– Somente em sonhos.
– Você está sonhando?
– Não.
– Mas você disse que veio lá do alto!
Samuel não replicou.
– Aqui é o nosso paraíso, disse ela olhando em torno.
Ele indicou o poente:
– Ajude-me!
– Impossível!
– Impossível?...
Enquanto recomeçava a colher flores, ela esclareceu:
– Para se viver aqui, é preciso nascer aqui. Não conhecemos outros mundos nem outros costumes senão os nossos. Meu pai contou-nos que um homem de coração reto, juntamente com a família, abandonou a terra dos homens maus e, tendo-se purificado nas águas da Fonte Sagrada, apossou-se dessas terras. A felicidade habitaria com ele e seus descendentes. Jamais acolheriam nenhum estrangeiro, porque seu coração conduz a semente do mal, que desconhecemos. Assim, não teríamos noção do ódio, do sofrimento, da dor... e tudo estaria ao alcance de nossas mãos.
– E a Fonte Sagrada?... Por que me enganaram?
– Na realidade, só os nossos primeiros pais foram nela purificados, e nós estamos purificados através deles. Você não foi enganado; apenas não entendeu a essência da mensagem recebida.
– Sucumbirei de fome e de sede, renegado e desprezado por um povo que se diz perfeito! É esta a essência da mensagem?
Lana fitou Samuel longamente:
– Aqui, você é um renegado – e afastou-se.
– Será que vocês realmente existem? ele gritou.
Ela não respondeu.
Samuel lambeu os lábios ressecados e sentou-se na relva. Sua garganta ardia. Meia hora depois, levantou-se e recomeçou a marcha sob um sol causticante. Em determinado momento, sentiu tonturas e desmaiou.

Sua esperança renasceu quando viu Lana aproximar-se, carregando consigo uma sacola.
– Estou consciente de que, diante dos nossos princípios, não estou agindo corretamente, e posso ser castigada por isso; mas resolvi arriscar. Um pouco de água e alimento concorrerá para que se restabeleça e volte para o seu povo.
Convidou-o a sentar-se, enquanto tirava os mantimentos da sacola e colocava-os sobre uma pedra. Em seguida falou com um jeito manso e cerimonioso:
–A mesa está pronta!
Ele sentou e serviu-se, moderadamente, saboreando com prazer cada um daqueles manjares. Quando terminou de alimentar-se, o Poeta lhe disse:
– Guardarei comigo, para sempre, a sua imagem com gratidão.
Ela beijou-lhe a face e se desviou sem olhar para trás.
– Aqui, você é um marginal; toda a aldeia sabe disso. Volte pelo caminho do mar... Adeus! disse enquanto se apartava, e desapareceu na penumbra.
Uma sensação agradável percorreu todo o corpo de Samuel. Agora, ele enxergava tudo com um novo colorido. Suas forças foram revigoradas, e poderia dispor de maior lucidez para resolver a questão delicada em que estava envolvido.

Aproximavam-se em silêncio, ostensivamente, com ares ameaçadores. Samuel se levantou e acelerou os passos, à medida que aqueles homens sisudos, também, faziam o mesmo. Vendo que se dispunham a puni-lo por continuar em suas terras, ilegalmente, partiu em disparada. De repente, sentiu um puxão para cima; seu corpo outra vez, flutuava. Lá do alto, lançou um derradeiro olhar sobre aquele sítio e sobre os seus perseguidores, e partiu rumo ao infinito, confundindo-se com as nuvens opacas do firmamento, e seguiu o caminho do mar.
(fragmento do livro ALUCINAÇÃO, de minha autoria)
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