Nos tempos de Sarney
TíSICA E CíNICA
De pacote em pacote vão embrulhando o povo. Como em Roma Antiga o Leão
continua devorando os Cristãos. Como dizia Cícero, "O Senado sabe, o povo está vendo". Da Roma Antiga ao Brasil de hoje, só mudou a maneira de matar.
Antigamente eram os leões e gladiadores. Agora é com a inflação, fome, poesia, raiva e promessa. Na roda gigante do poder, a festa continua. São sempre os mesmos. Quem está em cima, massacra os que estão em baixo. Quando falta energia a roda pára, e os que estão no alto demoram um pouco mais do que o convencional. Por exemplo, em 64, foram vinte anos.
Agora já se passaram nove meses e ainda nÃ¥o apareceu o " Pagador de Promessas". Em compensação surgiram os "alquimistas" e com novas fórmulas, baixaram a inflação com cálculos submatemáticos, de acordo com as necessidades da "Casa". NÃ¥o há necessidade de muitas explicações, "o país está em festa e vive em estado de graça".
Se Augusto dos Anjos estivesse vivo teria um grande tema para sua poesia. Já que descansa, vou parodiá-lo:
Doutor, pegue na tesoura e corte
Essa doce economia lúbrica,
Faça da Nova, a Velha República,
E deixe os brasileiros a qualquer sorte.
Que me importa se a comida é pouca,
Se a vida dos nativos é má ou boa,
Que aos políticos a paciência roa,
Se a economia é podre e louca.
Que me importa se sou fraco ou forte,
Se o menor no abandono é sifilítico,
Se sabemos que não será político,
A nÃ¥o ser que se transforme após a morte.
Pela manhã o político faz a física,
A tarde cansado vai a clínica,
A noite vota uma lei bem cínica,
Para amanhecer uma Nação já tísica.
Se o presidente é poeta, por que também nÃ¥o ser?
Se todos entendem de finanças e economia por que nÃ¥o dar meu recadinho ?
Para nÃ¥o dizer que nÃ¥o mandei flores, porque os Cardeais da Economia nÃ¥o reduzem os prazos de repasse dos Tributos recebidos pela rede bancária, pública e privada, paulatinamente, até o limite máximo de 48 horas? - Hoje os prazos variam entre 5 e 45 dias. O Governo vai diariamente ao mercado buscar trilhões que são dele, e a juros especulativos. Com isso, o Over e Open proporcionam as empresas maior lucro financeiro que operacional. As empresas são mini-bancos, emprestando seu capital de giro e investimento ao Governo. Deixam a produção de lado, aumentam o desemprego, desgraçam o comércio interno e dÃ¥o seguimento à bola de neve da inflação do governo desmamado. Como a receita do governo é fixa e a despesa é variável, por conta dos juros que paga, a dívida pública vai acumulando. Para tapar os buracos, os "Gênios" emitem papel moeda, ortn s, lançam pacotes e aumentam os impostos. Para os nativos, tomem inflação! Encurtando o prazo nos repasses dos bancos, o governo necessitaria de menos dinheiro. A taxa de Over e Open cairia rapidamente, já que o maior tomador deixaria de forçar a alta do mercado. Os bancos seriam remunerados apenas pelos custos de arrecadação e voltariam a emprestar pelos depósitos efetivamente existentes. Os empresários voltariam a colocar seu capital em atividade produtiva, com consequente aumento na oferta de empregos e o Governo arrecadaria mais impostos sem aumentar a taxaçÃ¥o. Passaria de tomador de "Papagaios," para governo de verdade, com letra maiúscula.
No assunto aqui tratado, ninguém tocou. O pacote de Natal veio como o Cavalo de Tróia. Novamente mais impostos, em cima da mesma produção falida e dos assalariados.
Essa conversa fiada de que o imposto de renda vai baixar para os assalariados até 15 mínimos, é cínica e mentirosa. As alíquotas pelo sistema antigo, teriam que ser corrigidas em janeiro sem nenhum favor. A pequena diminuição nas alíquotas até 10 mínimos, será compensada pela capaçÃ¥o do imposto retido em 85 que ficará como empréstimo compulsório, restituível em até 4 anos.
Ruim nÃ¥o é ser enganado. Pior é ser gozado por um batalhão de incompetentes Deputados e Senadores, acostumados a aprovarem votos de pesar, criticarem o que nÃ¥o sabem, legislarem em causa própria.
Um aviso aos navegantes desse mar de lama: NÃ¥o sou matemático, economista, financista nem político, mas sei somar e subtrair. De agora em diante vou jogar gasolina para apagar incêndio e "aquilo" no ventilador. E lembrem-se, no Pro-alcool da minha angústia e do meu desespero, estou destilando ódio anidro e gasolina de avião.
Sou apenas um, dos milhões de brasileiros exilados, no próprio país desgovernado. Há muito mais. Posso nÃ¥o ser o dono da verdade, mas nÃ¥o conviverei calado com a mentira.
Mauro de Oliveira
06.02.86
|
