Recebi mensagem pela Internet informando que, ""no vestibular da Universidade da Bahia (janeiro de 2005), foi solicitado aos candidatos a interpretação do seguinte trecho de conhecido poema de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer;"
Uma vestibulanda de apenas 16 anos de idade deu sua interpretação:
"Ah! Camões, se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
Consultavas a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"
Recebeu nota dez. Foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher!!! ""
É o seguinte o teor do soneto que tem como título o primeiro verso:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer;
é um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder;
é querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor ?"
O soneto, do ciclo idílico de Camões (1540-1547), é exemplo da pureza formal e acrescenta contribuições novas ao soneto de Petrarca "Pace non trovo e non ho de far guerra". Dos mais célebres e popularizados da língua portuguesa, impõe-se pela "...perfeição escorreita dos versos, pela facilidade com que consegue, com extrema condensação das palavras, evidenciar as antinomias e pelo tom gracioso e comunicativo" (Maria de Lurdes Saraiva. "Camões. Sonetos. Europa-América).
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras