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Cronicas-->Romance no parque -- 12/02/2006 - 21:45 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Walkíria ia todo sábado ao Parque da Cidade aqui em Brasília. Roupas de andar, sem muita produção. Chega apressada, fecha o carro e logo vai para a pista. Percorre o roteiro de quatro quilómetros, toma uma água de coco e, apressada, entra no carro e desaparece na cidade. Sai convencida de que aproveitou o parque. Mas não observava nada, não via nada nem ninguém. Mal sorvia a água de coco e ia embora.

Oswaldo ia todo domingo ao Parque da Cidade. Roupa de esportista, tênis da moda, medidor de pulso e sei lá o que mais medem estes esportistas de final de semana. Na verdade, ele ia todo o dia, exceto sábados. Aos sábados ele tem um compromisso que nunca deixa de cumprir. Mas é secreto, pelo menos até o autor inventar algo. Chegava no mesmo estacionamento usado por Walkíria e logo se punha em marcha. Segundas, quartas e sextas no roteiro de quatro quilómetros. Terças e quintas no roteiro de seis e no domingo, no roteiro de dez. Não corria, mas caminhava com energia, a passos rápidos. Sua velocidade era algo entre sete e oito quilómetros por hora.

Um dia Walkíria não póde ir no sábado e decidiu compensar no domingo. Foi à tarde e não encontrou Oswaldo que vai sempre pela manhã. Mas ela gostou do domingo e no final de semana seguinte foi novamente no domingo, desta vez pela manhã. Ela anda sempre no sentido horário. Ele no sentido anti-horário. Havia uma boa chance de se cruzarem. E aconteceu. Ele passou rápido e nem a notou, ela ia mais devagar o notou já quando ele se aproximava e fez aquele olhar "faz que não vê mas observa tudo".

Walkíria assumiu de vez que o melhor horário para andar é o domingo pela manhã e passou a ir todos os domingos, abandonando o sábado. Em casa perguntaram o motivo, mas ela não explicou, disse qualquer coisa sobre sintonizar com a natureza no dia consagrado ao divino. Sua irmã ouviu e pensou: "tem homem na jogada". Mas ficou quieta.

No domingo seguinte, mais produzida, ficava enrolando seu caminhar até que Oswaldo aparecesse. No décimo primeiro ele a notou e ela notou ter sido notada. Euforia. Seis semanas depois já trocavam olhares e quando completaram cinquenta e duas semanas, cumprimentaram-se rapidamente. Também, um ano de encontros. Rápidos é verdade. Durante todo este tempo um procurou descobrir onde o outro tomava água de coco. Era no mesmo lugar, mas nunca se encontraram na banca de jornal.

Foram três anos assim, caminhando um em cada sentido, em roteiros diferentes, com um breve momento de interseção. Até que ela se atirou na frente dele, fazendo-o parar. Tiveram uma discussão horrível por mais de meia hora, um acusando o outro de falta de iniciativa, que não podiam mais passar as semanas esperando pelo domingo para ter apenas um breve cumprimento. Quase bateram um no outro. Quando se deram conta, já tinha muita gente assistindo, uns dando razão a ela, outros dando razão a ele, a polícia também dando palpites mas sem interferir. Um acontecimento.

Passado o primeiro impacto, abraçaram-se longamente, sussurraram algo um no ouvido do outro e foram tomar uma água de coco. A assistência se desfez, mas todos ficavam olhando de longe. Depois da água, sumiram no trànsito da cidade. Dizem que se casaram na sexta seguinte.

Ela nunca descobriu o que ele fazia aos sábados a tarde.


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