Espero o teu sorriso
Nesta tristeza em riste;
Mas se viver é um aviso,
Que é a dor que insiste?
O escuro desfigurante
Desvanece o brilho do olhar.
E agora eu, doravante,
Nunca vou mais te amar...
Se isso fosse possível,
Expiar-te-ia no inferno;
Mas eu respiro no nível
Do meu amor eterno...
Agarro-me na tua luz
De sóis em sóis mil,
Carregando a minha cruz
De poeta neste brio.
No canto da geladeira,
Podre nasce o poema.
Se tudo é brincadeira,
O amor é um esquema?
No ar está a tua lua.
E eu só vivo a chorar
No quarto e pela rua,
Pois me revolvo no teu mar.
A pressa de te amar
Tornou-me teu desinteressante,
E não adianta me arrumar
Nos trejeitos doutro amante...
E o meu riso desgraçado
Fere-te no teu desejo;
Mas - já desmascarado -
Aproveitas-me no ensejo...
(por Fernando Pellisoli)
|