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cronicas-->Moreno em prosa -- 12/02/2006 - 09:37 (Thales Rodrigues Maia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Moreno

Debaixo de um escaldante sol de verão, catorze horas, nem mais, nem menos, lá estava ele cantarolando, enquanto sua junta de bois arava o terreno da Barra dos Dois Rios, Fazenda do Pontal, para uma nova semeadura. O interessante é que ele não perdia tempo com tristezas. Tio Vicente, irmão caçula de minha mãe, estava sempre de bom humor e era um incansável trabalhador. Buscava em seu variado repertório, quase sempre uma música sertaneja:

"Que braseiro! Que fornalha!
Nem um pé de plantação
Por falta d嫇gua perdi meu gado
Morreu de sede meu Alazão."

Parou a cantoria, para responder a um inusitado cumprimento:
- Boa tarde, Só Vicente Cesarinho!
Interrompe o trabalho e dedica seu precioso tempo ao visitante. Era seu jeito de ser, doando-se com todo o amor ao próximo, a quem tivesse necessidade de sua ajuda, sem distinção de cor, credo ou qualquer outra diferença. Para todos tinha uma palavra amiga, um socorro na hora certa, um ombro para quem dele precisasse.
É que chegara na cidade um "Circo de Touradas" e meu tio era sempre procurado para ceder suas vacas e touros. Ele não sabia dizer não, embora tivesse muito xodó com seu gado.
O empresário, Divino Roseno, queria justamente contratar o boi Moreno, que era muito bom de serviço no arado, mas se transformava!
- "Ó Só Vicente, eu já anunciei a participação do Moreno na tourada com um sucesso garantido. Se ele não comparecer, meu circo perde a clientela!
-"Seu moço, como pode você anunciar uma notícia dessa, sem falar comigo? Veja como o Moreno está magro. Agora é época de seca, e o gado enfraquece.
- Só Vicente, insistia o rapaz, eu suplico, só a presença dele já fará feliz aos frequentadores fiéis de meus circo! Que ele faça só uma pequena apresentação.
E tanto o moço insistiu, que Tio Vicente, com seu boníssimo coração, concordou em emprestar-lhe o pobre do boi.
E, como era de praxe, na hora combinada, Carlos, seu filho mais velho, um menino ainda, e o Zé Sinhorinha, empregado da fazenda, levaram o famoso Moreno para a cidade. Na sua chegada, gritaria e aplausos da molecada, empolgação que só fazia estressar um boi, acostumado com a calmaria e o silêncio reconfortante da roça. Tio Vicente e Tia Rosa, sentados na arquibancada, cheios de expectativa e ansiedade, esperavam mais uma proeza do grande astro!
E na arena entra o tão esperado "artista" que logo vê, em sua frente, o toureiro Borracha, que sempre dava um show à parte, com um salto mortal, caindo montado no lombo do boi. Mas com Moreno, Borracha se deu mal, porque, como o boi de carro normalmente investe com olho aberto, Moreno o pegou no ar e Borracha caiu de costas atrás do boi, desmaiando. Moreno começou a esfregá-lo no chão. Os outros toureiros não tiveram coragem de socorrer o amigo. A platéia grita de horror. Tio Vicente desceu as arquibancadas correndo e pulou a cerca da arena, contra os protestos de Tia Rosa:
- ¨Num vai não, Vicente, num vai não que o Moreno tá doido, ele vai te matar¨.
Tio Vicente chegou conversando com o boi:
- ¨Moreno, Moreno¨ e passou a mão no chifre dele.
Nessa hora, há um silêncio total. O boi, largando sua vítima olha para seu dono. Ele entende aquela linguagem. Ainda com a respiração ofegante, deixa-se levar para o tronco. E o Borracha foi levado para a Santa Casa.
Na véspera de outro Circo Tourada, Tio Vicente escreveu no lombo desse boi: ¨BOI MORENO TIRAPROSA¨ com cal, e o pós em cima de um caminhão, desfilando pela Avenida Primeiro de Junho e pela Rua Goiás, exibindo seu troféu. No outro dia, lá estava ele dando o maior trabalho para os toureiros. A volta que deu com ele no caminhão valeu um cachê mais alto e arquibancadas cheias.
Hoje, não acontecem mais touradas em Divinópolis, como na década de cinquenta. Mas será que teriam charme sem a presença de Moreno?

Fernanda Araújo

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