O ar está infestado de infortúnio
Na ligação frenética dos olhos incandescentes,
Cumprindo descerro da vaga vaidade
Cegando o Homem.
II
Como desabrochar no sonho
A temática tênue da incompatibilidade infrutífera,
Que excretam fezes no escroto
Vaso da animalidade?
O poema nasce enjoado
De tanto transparecer a idiotice da manhã defunta,
Que não tem nenhuma cumplicidade
[com a cor do verão.
III
E o poeta brinca de fazer rodeios miraculosos
Na expectativa de ativar a imaginação,
Que pode desmanchar o vazio
Da inverdade do abafo.
IV
Os meus versos são simplórios,
Pois têm a inconseqüente fatalidade dos dias nefastos,
Onde a vida infiel e inverossímil
É o desdouro do olhar.
Como decifrar o indecifrável anoitecer,
Onde a lua caprichosamente não compareceu?
A noite é, indispensavelmente, neutra, confusa e obscura
[na neutralidade do instinto...
(por Fernando Gomes)
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