Cobrimos as plantas. Fazia muito tempo que não víamos um céu tão claro depois de tanta chuva e sentíamos o frio machucando as mãos. Todas elas eram recém brotadas, com exceção das mostardas, que deram seus primeiros sinais um dia depois de regadas, e das mudas, presentes de quem sabe. Com muito zelo regávamos as ervas uma vez por dia. Espantávamos os passarinhos e retirávamos as daninhas. Ainda era cedo para colher, mas os brotos já serviriam como uma bela salade bébé, se não sentíssemos tanto ciúme das nossas crianças. Doeu fundo quando retiramos cinco folhinhas do alecrim, logo que a muda enraizou.
Encontramos muitas pedras e as retiramos punhado por punhado. Não fomos nós que as deixamos lá, eram sobras da reforma de outra pessoa. Revolvemos a terra dura com uma pazinha. Era tudo que tínhamos. Não encontramos adubo, então fizemos do canteiro um novo lar para as minhocas, e plantamos. E sentimos orgulho.
Uma semana depois, só o tomilho, de aparência frágil, exigente por muito sol, pouca água e solo arenoso, não despontava seu verde. As plantas mais fortes são as que demoram a nascer.
Não podíamos deixar nossas crianças queimarem no frio da geada. Não de novo.