E vou.
Vou inteira, entregue,
Como se fosses a solução.
Permito que me toques,
Que me consumas,
Que me excites.
Vou.
De braços abertos,
De bicos eretos,
De pernas tão soltas,
Envoltas, elásticas,
Fantásticos apêndices de perdição.
Vou.
Aliviar tua dor,
Saciar tua fome,
Alimentar teu calor.
Em desespero, em prece, em coro,
Sem nenhum decoro.
Santa, infante, demente.
Linda, doce, atraente.
Puta, aviltante, indecente.
Mas tua,
Completamente nua,
Com a alma exposta,
Feito chaga cultivada pra durar.
Vou pra te curar,
Vou pra te amar,
Como amam os deuses, os crentes,
Os médicos, os doentes,
Os inconstantes, os carentes.
Vou com paixão, com tesão,
Com a imensidão dos sonhos de posse,
Com soluços, com beijos, com fome,
Dividir com esse homem
A vida e a morte.
Lílian Maial
Rio, 19/11/00
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